A médica Nayara Curti atua em cinco unidades públicas e privadas de saúde em São José dos Campos, entre elas a Santa Casa. Há três anos na profissão, tem atuado neste último ano na linha de frente no combate à pandemia. Uma missão difícil, talvez o maior desafio profissional que ela já tenha assumido.
Em entrevista ao Portal Meon, a médica fala sobre a evolução da doença em 1 ano na RMVale, reforça ainda a importância dos cuidados de higiene e de distanciamento que devem continuar mesmo com a vacinação em andamento, pois esta segue em ritmo lento, além da preocupação com o aumento de casos entre jovens, que estão se tornando alvos frequentes do vírus.
Nayara representa aqui todos os profissionais da saúde, que lutam dia e noite para salvar vidas, enfrentando limitações com o aumento da demanda, a dor de perder vidas, o alívio com a recuperação de pacientes e as dúvidas que ainda cercam a doença. Em meio a tudo isso, a necessidade de preservar a própria vida, seguindo rigorosas medidas sanitárias.
Confira a entrevista por escrito e em vídeo.
Meon- O que os profissionais têm acompanhado em ralação aos pacientes com Covid-19?
Nayara- A gente tem visto uma crescente, um aumento significativo no número de casos, comparando a primeira onda com essa segunda onda é bem característico a prevalência maior de jovens, e é uma situação preocupante. Com o aumento no número de casos, nós temos poucos leitos disponíveis. Então somando já aos idosos que nós já temos acometidos, nós temos agora essa nova cobertura dos jovens, e isso acaba limitando a terapêutica, a disponibilidade de todos os serviços que eu trabalho, de receber esses pacientes.
Meon- O cenário agora é mais preocupante que anteriormente?
Nayara- Eu acredito que sim por conta da situação da população. A gente vê que já está com 1 ano de pandemia, as pessoas acabam ficando cansadas com a situação atual e acabam deixando as medidas preventivas de lado, e acabam superlotando ainda mais o serviço de saúde. Então estamos vendo isso com a superlotação dos hospitais, é bem significativo aumento.
Meon- Como tem sido o atendimento desses pacientes? Estão conseguindo dar conta da demanda?
Nayara- Apesar da quantidade a gente tem estruturado o serviço de atendimento, então o paciente que chega com queixas respiratórias , febre, todos os sintomas compatíveis com Covid, ele é triado no pronto atendimento e a partir dele é direcionado aos devidos setores, mas apesar da situação dramática da quantidade de pacientes, procurando os serviços, nós temos o serviço muito estruturado para receber esses pacientes.
Meon- Tem tido muita perda de pacientes, nas unidade em que atua, como lidam com isso?
Nayara- Infelizmente isso é muito frustrante, porque é uma doença nova, a gente tá se moldando, se atualizando sempre para tentar fazer o melhor tratamento possível, mas infelizmente a gente também tem limitações de terapêutica, limitações de materiais pela quantidade. Perder vidas é algo muito triste e muito frustrante. A gente ainda não chegou no momento de escolher, mas a gente vê que em grande parte do Brasil isso já é uma realidade. É algo muito preocupante.
Meon- Qual é a medicação que vocês têm administrado no tratamento dos pacientes?
Nayara- Por enquanto nós não temos nenhum tratamento comprovado cientificamente, mas o que a gente costuma conduzir de acordo com a indicação do paciente, os que estão mais graves, que estão dependendo de oxigênioterapia, a gente tem indicações de associar corticoterapia, em alguns serviços a gente até faz um esquema de anticoagulação por conta do risco de trombose elevado, que esses pacientes infectados pela Covid sofrem, mas em fases iniciais é mais tratamento com sintomáticos, então analgésicos, medicações mais pra sintomas específicos.
Meon- Mesmo após o tratamento e alta dos pacientes, têm sido observadas sequelas pós-Covid?
Nayara- O pós-Covid é algo que a gente vem vendo bastante os efeitos dessa doença. O paciente se queixa bastante principalmente de mialgia, dor no corpo, cansaço, a tosse crônica, às vezes fica muito ansioso por ter enfrentado essa doença e ainda ter sintomas. Então a gente tem equipes disponíveis acompanhando esse paciente, enfermeira que entram em contato para saber como esse paciente está. E a gente sempre orienta os pacientes a procurarem atendimento em casa se há piora de quadro, esse acompanhamento ambulatorial é muito importante e multiprofissional. A fisioterapia tem tido um papel importante nessa reabilitação, principalmente pacientes que ficaram graves, precisaram de intubação, que acabaram necessitando de uma reabilitação pulmonar significativa e tem ajudado bastante.
Meon- Chegou a acompanhar algum caso de reinfecção, algum caso grave?
Nayara- A gente sabe que a reinfecção ela existe, já têm casos relatados de reinfecção pelo Brasil. Aqui a gente ainda não teve nenhum, mas é algo que a frequência ainda é muito baixa, felizmente a gente tem uma incidência baixa.
Meon- São José tem recebido pacientes de fora?
Nayara- A gente acaba recebendo pacientes do Vale, de acordo com a referência da cidade, acaba recebendo pacientes do Vale todo.
Meon- Na sua opinião a aceleração da vacina pode aliviar mais rápido esse cenário?
Nayara- Atualmente a gente tem apenas 5% do Brasil vacinado e de acordo com a velocidade da vacinação, a gente espera que em dois anos e meio vai ser feita uma cobertura de 100%, então isso é muito preocupante. O ideal seria ter uma cobertura maior e se possível em menos tempo. Aí que entra a importância de evitar aglomeração, de uso da máscara independente de estar vacinado ou não, e ter todos os cuidados básicos, porque infelizmente a gente ainda tem muito tempo pra combater juntos essa doença.
Meon- Qual a expectativa sobre essa nova mudança no Ministério da Saúde, que se reflete diretamente no setor do combate à pandemia?
Nayara- Acho que precisamos aguardar, a área da saúde tá toda unida em prol do combate à doença. É muito importante a gente ter um comando, uma linha uniforme de combate, então acho que um momento de aguardar e torcer para que que a gente consiga ter uma uniformidade de condutas e planejamento dos próximos meses e anos.
Meon- Mesmo que haja avanço em tratamento, vacina, como deve ser o comportamento das pessoas?
Nayara- Todo mundo tá ansioso para receber a vacina, é algo que realmente vai ajudar, vai salvar muitas vidas, mas é indispensável o cuidado básico, a higiene básica, lavar as mãos, o álcool em gel, máscara é fundamental e principalmente evitar aglomerações. Uma das causas de variantes, uma das causas de mutação do vírus é justamente ele estar em contato com reprodução constante. Então a gente evitando as aglomerações, acaba evitando aí a maior produção de variantes, e cada vez a piora do quadro dos pacientes. É importante que fique claro que a gente precisa manter as medidas de precaução.
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