Maria Isabel MiraBarreiroPres. SOS Mulher
Antiga sede foi devolvida por falta de recursos
Divulgação
Após 34 anos prestando assistência para mulheres em situação de risco em São José dos Campos, a ONG (Organização Não-Governamental) SOS Mulher agoniza em busca de recursos para continuar realizando um trabalho multidisciplinar, que chegou a atender 400 mulheres por mês.
Sem fins lucrativos, a organização sempre dependeu da verba proveniente da prefeitura para realizar um trabalho multidisciplinar, que oferecia de psicólogas a advogadas. Porém, sem concordar com as mudanças implementadas pela atual gestão, a ONG não conta mais com sua principal fonte de renda.
De acordo com a presidente Maria Isabel Mira Barreiro, desde que o prefeito Felicio Ramuth (PSDB) assumiu o mandato, os repasses ficaram limitados a atendimentos apenas aos casos extremos. Desta forma, segundo ela, ficaria inviável assistir, de maneira multidisciplinar, as mulheres que procuram a ONG.
Maria Isabel MiraBarreiroPres. SOS Mulher
“A gente não concordou com os termos da licitação apresentada pela atual gestão. Em 34 anos sempre tivemos uma boa relação com a prefeitura, mas a impressão que tivemos foi que esta gestão não se preocupa de verdade com o trabalho de assistência às mulheres vítimas, principalmente, de violência doméstica. Queriam nos oferecer apenas uma advogada, que trabalharia quatro horas por dia e mais quatro assistentes educacionais. Isso não ajuda, a ONG se transformaria num depósito de mulheres, sem nenhum cuidado”, explica.
A SOS Mulher trabalhava em parceria com a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) para que as mulheres tivessem orientação inclusive para registrar boletins de ocorrência, o que, segundo Maria, é um grande problema na prática. A maioria dos escrivães, ela afirma, tem dificuldade de identificar a violência contra a mulher.
“Tínhamos dois endereços, um na rua Santo Agostinho, na Vila Adyana, que recebia quase a totalidade de mulheres que nos procuravam. Também tínhamos um endereço secreto, para mulheres em situação extrema, com risco de morte. Era apenas essa última que a prefeitura queria manter”, comenta.
A licitação da qual a ONG não disputou aconteceu em novembro de 2017. Sem a verba proveniente da prefeitura, a SOS Mulher precisou demitir as colaboradoras, arcando com as dívidas trabalhistas, aluguel e contas referentes à manutenção da casa.
Atualmente, Maria recebe as demandas de mulheres via whatsapp e ajuda como pode. “A gente tenta auxiliar. A ONG ainda é referência para muitas mulheres, que me procuram sem nenhuma orientação. Ainda acredito no trabalho e espero voltar a prestar essa assistência às mulheres vítimas de violência”, comenta.
Outro lado
De acordo com a Secretaria de Apoio Social ao Cidadão, a licitação realizada em 2017 segue as determinações da lei 13.019, de 31 de julho de 2014, que institui normas gerais para as parcerias entre a administração pública e OSCs (Organizações da Sociedade Civil).
Atualmente, de acordo com a assessora especial de políticas para mulheres, Evelyn Aparecida da Silva Amaral, nos casos de identificação de violência contra a mulher, os atendimentos são realizados pelos serviços da prefeitura, como o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), Unidades da Saúde, UBSs, UPAs (Unidades de Pronto Atendimentos) e hospitais, geram um documento de notificação compulsória.
“Essas fichas de notificação são encaminhas a SASC (Secretaria de Apoio Social ao Cidadão), dando início ao atendimento no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), que conta com uma equipe multidisciplinar e ainda com a contratação da UNISER (Empresa Cooperativa de fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, psicologia e terapia ocupacional) para o atendimento psicoterapêutico”, afirma.
A assessora ainda discorda dos números apresentados pela diretora da SOS Mulher. De acordo com ela, o número de atendimentos no modelo atual saltou de 90 para 300 por mês.
ONG Dandara venceu licitação da prefeitura, mas casa de atendimento está fechada
“No modelo de atendimento dentro das vagas conveniadas com o SOS Mulher, em 2017, eram atendidas de 90 mulheres por mês, divididas por três profissionais psicólogos. Atualmente, com os atendimentos especializados e descentralizados nos três CREAS, temos uma equipe com mais de 10 psicólogos, ampliando a capacidade de atendimento para aproximadamente 300 mulheres por mês”, afirma.
Portas fechadas
Há 17 anos atuando com portas abertas, a ONG Dandara, de São José dos Campos, foi a vencedora da licitação da prefeitura. Entretanto, de acordo com a organização, a casa que atenderá mulheres com risco de morrer por conta da violência ainda está de portas fechadas. A prefeitura não entregou ainda as chaves às responsáveis pelo trabalho.
A presidente da ONG, Marcela de Andrade, afirma que, no local, trabalhará uma advogada e seis educadoras sociais. Além disso a Dandara ainda conseguiu que uma coordenadora atuasse voluntariamente no local.
“É mais vontade do que dinheiro, na verdade. Para manter a entidade não vai sobrar nada. Nestes 17 anos de atuação ainda não havíamos recebido nenhuma verba de prefeitura, sempre foi tudo pela nossa vontade mesmo. O ideal, na verdade, seria que o município pudesse realizar todo o atendimento, com políticas públicas mais abrangentes contra a violência à mulher”, explica.
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