Em um tempo não muito distante, o ambiente por trás e na frente das câmeras em uma transmissão futebolística de televisão era altamente composto por figuras masculinas. Desde os repórteres que adentravam o campo, até mesmo, principalmente, aos narradores e comentaristas que testemunhavam os lances para os telespectadores. Contudo, nos últimos anos isso tem mudado. Já não é mais novidade ouvir vozes femininas reportando as partidas nas beiradas do campo e, principalmente, contando os fatos da partida na função de narradoras. Algo impensável em outros tempos, hoje, passa a ser muito comum.
Natália Lara, comunicóloga formada em Rádio e TV, de 27 anos, e nascida em São Paulo, foi uma das precursoras no caminho de abertura para as mulheres locutoras. Atualmente, contratada pelo Grupo Disney (Fox Sports e ESPN), Natália foi a primeira mulher a narrar um jogo da NBA, maior liga de basquete do mundo, e do Campeonato Inglês na televisão brasileira. Antes disso ela já havia feito história ao ser a primeira voz feminina a comandar a final do Paulistão e ser a primeira narradora de rádio FM em São Paulo.
Com uma rotina apertada de trabalhos em São Paulo, sede do Grupo Disney no Brasil, a radialista bateu um papo com a reportagem do Portal Meon e falou sobre diversos assuntos como jornalismo, machismo nas redes, feminismo e muito mais. Confira.
O interesse pelo esporte em geral está presente em sua vida desde quando?
Desde sempre. Meu pai sempre foi fã assíduo de esportes, principalmente de Fórmula 1 e futebol. Então sempre tive essa influência dele. Me lembro dele frequentemente na sala de casa às quartas e domingos assistindo alguma partida ou corrida. E eu acabei por crescer com esse hábito também, acompanhando esportes e campeonatos diferentes.
Você sempre gostou de esportes? Praticava algum quando era criança/adolescente?
Sim, sempre gostei. Quando eu era criança, costumava jogar futebol e outros esportes na quadra perto de casa e na escola. E tinha o sonho de ser jogadora, mas infelizmente não podia pagar escolinha de futebol, e o meu colégio nunca promoveu um time feminino de futebol ou de futsal.
Quando veio o interesse pela narração esportiva?
Durante a época da faculdade, uma professora minha de locução chamada Magaly Prado, disse que eu tinha uma voz muito boa pra esportes e pra narração. Quando me formei, estava decidida a estudar locução, e tomei um ano pra fazer apenas isso. E dentro do curso de locução, outro professor meu, Fernando Alves, mais uma vez me falou sobre a narração, e me deu a dica de um curso que iria começar na semana seguinte. Eu decidi apostar nesta área, porque nunca antes tinha visto outra mulher na área, e tomei como um desafio que eu tinha certeza que conseguiria realizar.
Até pouco tempo atrás era impensável assistir uma partida de futebol com narração feminina. O que você acha que foi o determinante para essa mudança de paradigmas dos tempos atuais?
A evolução da sociedade como um todo, principalmente com a discussão sobre feminismo e o espaço da mulher. Vejo que o mundo começou a contestar por que as mulheres estavam sendo deixadas de lado em certas áreas e funções, e por que essas funções eram tradicionalmente designadas para os homens. E principalmente no esporte, onde as mulheres por muitos anos foram proibidas, excluídas e rejeitadas.
Quando você começou a se interessar por narração, qual eram suas referências?
O narrador que eu mais ouvi e assisti na minha vida foi o Galvão Bueno. Considero ele como a primeira referência. E quando o interesse pela narração surgiu, comecei a assistir e ouvir Everaldo Marques, Rogério Vaughan, Éder Luiz e Osmar Santos.
Como você se sente sendo inspiração para tantas outras garotas que tem o sonho de se tornarem narradoras/repórteres esportivas?
Me sinto honrada. Sinto que neste momento estamos abrindo portas que não se fecham mais, que estamos consolidando nossas vozes e nomes. E que as próximas gerações que vierem, vão poder sonhar com algo que antes eu jamais achava que fosse possível fazer. Saber que o legado construído seguirá forte, é muito gratificante.
A caminhada até hoje, o auge, no Grupo Disney, foi bastante árdua?
Com certeza. Foram muitos dias e horas de estudos, de trabalhos muitas vezes voluntários (pagando pra trabalhar), de muita dedicação, resiliência e paciência. Nada vem na nossa vida de graça, ou cai no nosso colo. Muitos dias acordei desanimada e querendo desistir, mas algo internamente sempre me puxava pra frente e pedia pra que eu seguisse, e eu felizmente acreditei nessa intuição. Tive que colocar em mente o que eu queria e ir em busca desse objetivo. Foram 16 modalidades diferentes, viagens pra outras cidades, estados e até países. E foram também muitas pessoas que construíram isso comigo em todos o caminho.
Você passou por episódios de machismo dentro e fora dos ambientes televisivos?
Acredito que não exista mulher que não tenha passado. Alguns são mais descarados, outros mais discretos. Eu tive episódios pontuais e discretos. Felizmente foram poucas vezes. E não dá pra dizer que eu tenho sorte nesse aspecto, porque é o mínimo que devemos ter: o respeito. Mas a maioria massiva desses episódios vieram do público que consome esportes. Tem comentários e críticas que de vez em quando aparecem que são muito duros e maldosos.
Como lida com as críticas?
Tento sempre filtrar e buscar se há algo que possa me fazer evoluir profissionalmente. Porque às vezes, no comentário que parece mais maldoso, pode ter alguma crítica construtiva que a pessoa não sabe a maneira de te falar. Porém nem tudo é tão fácil. Tem dias que as críticas deixam mal emocionalmente, e são muito doloridas. Mas cabe mais uma vez a resiliência. É saber receber essas críticas e conseguir descartá-las.
Qual recado você deixaria para meninas que amam esportes, jornalismo e querem seguir o mesmo caminho que você seguiu?
Se você tem um sonho, faça dele o seu objetivo. Se dedique e estude. Aproveite suas redes sociais, um celular com câmera, microfone e gravador, se grave e se escute. E nunca tenha medo de pedir ajuda para as outras pessoas, pedir ajuda faz parte e é muitas vezes necessário. E saiba que, pra nós mulheres, a cobrança e o peso de um erro - por menor que seja - é sempre muito maior que para os homens. Então esteja sempre muito preparada, munida de informações.
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- Foto: Arquivo Pessoal
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- Foto: Divulgação: Fox Sports / ESPN
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