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O Gaema (Grupo de Atuações Especial do Meio Ambiente), ligado ao Ministério Público, instaurou inquérito civil para apurar possíveis impactos ambientais que o projeto da nova Lei de Zoneamento de São José dos Campos pode causar se for aprovado na condição atual.
A Lei de Zoneamento é um conjunto de regras que visa garantir o crescimento ordenado da cidade para os próximos anos. Ela define, entre outras coisas, a demarcação de áreas e como elas poderão ser utilizadas.
O atual projeto, elaborado pela equipe do prefeito Felicio Ramuth (PSDB), prevê diversas mudanças como, por exemplo, as que são mencionadas no inquérito: conversão de áreas classificadas como ZPA (Zona de Proteção Ambiental) para ZPE (Zona de Planejamento Específico), ZI (Zona Industrial) e ZUPI (Zona de Uso Predominantemente Industrial).
O promotor responsável pelo inquérito, Laerte Fernando Levai, destaca que a investigação sobre o projeto será feita porque “se aprovado por lei [a alteração acima citada] provocaria um grande adensamento urbano e industrial, justamente sobre os últimos remanescentes de Cerrado, com notórias repercussões ambientais ocasionadas à flora, à fauna, às áreas territoriais ambientalmente protegidas, aos mananciais e à várzea do Rio Paraíba do Sul”, diz em um trecho do documento.
O inquérito foi instaurado no último dia 17 de julho e movido pelos professores Wilson Cabral de Sousa Junior, do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e Klecia Gili Massi, da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
De acordo com o professor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) Wilson Cabral, o projeto da Lei de Zoneamento, como está, poderá causar sérios prejuízos para a cidade e, consequentemente, para a população (veja abaixo alguns temas elencados por ele). Para o professor, a abertura do inquérito demonstra que há indícios desses eventuais problemas.
"Já havíamos pedido à prefeitura, uma ampliação da proteção ambiental no Zoneamento, especialmente em relação às áreas de Cerrado e de recarga de aquíferos, porém a resposta veio no sentido contrário: as áreas foram suprimidas na proposta. Diante desta falta de sensibilidade, não no restou outro caminho, por isso a representação junto ao MP. O acolhimento deste pedido pelo MP e a abertura de inquérito mostram que há indícios da perda para a cidade com a proposta", afirma.
O documento revela ainda que em outubro de 2018 teria sido criada a “Câmara Técnica para Discussão do Plano Diretor de Mata Atlântica e Cerrado” dentro do Comam (Conselho Municipal do Meio Ambiente). O propósito, segundo descrito no documento, para discutir a conservação dos biomas existentes na cidade.
Segundo ele, o inquérito aponta que a apresentação dos resultados da Câmara Técnica teria acontecido somente na mesma data em que foi realizada a última audiência pública para a discussão do projeto com a população -- em 17 de julho. Com isso, os requerentes alegam que os resultados não foram considerados para análise da configuração do zoneamento proposto.
A Prefeitura tem até 30 dias para se manifestar ao MP, que solicitou também o recolhimento do Plano Municipal da Mata Atlântica do Município. A reportagem procurou a Administração e o Comam, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Redução significativa de remanescentes de vegetação de cerrado no município
"Os remanescentes de Cerrado estão localizados prioritariamente na região entre a rodovia Presidente Dutra e a Carvalho Pinto, em área de zona urbana de São José. Uma parcela significativa disso está dentro do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). Então, em tese, é essa parcela que vai se manter, dependendo do uso que o DCTA der para esta área. Todo o resto de remanescentes fora dessa área pode ser perdido. A Prefeitura está mudando as classificações das áreas, especialmente em regiões onde temos a necessidade de conservar. Primeiro por ser remanescente de cerrado, uma vegetação que está em declínio em São José dos Campos. Nós temos uma área rural muito grande e onde há uma série de remanescentes e vegetação, agora se considerar apenas a zona urbana nós temos um déficit e esse déficit impacta em termos de poluição atmosférica, causa desiquilíbrio do clima com zonas de calor, problemas de saúde, concentração de poluentes no ar, e nós vamos sofrer muito mais consequências das mudanças climáticas com surgimento de eventos extremos."
Redução do caráter de proteção de áreas fundamentais para a recarga de aquíferos
"Tem regiões em que os aquíferos são mais importantes. Na região sul do município, entre a Dutra e a Carvalho Pinto, existe uma área de recarga de aquífero e por uma questão de adensamento de fraturas de rocha no subsolo, a água que infiltra naquela região tende a descer e alimentar os aquíferos subterrâneos. Parte das áreas de proteção ambiental está sobre essa região e está sendo tirada e transformada em zonas de novos empreendimentos ou para uso industrial. E em áreas de aquífero tem vegetação de cerrado, que deveria ser preservado."
Reduz a resiliência do município frente às mudanças climáticas e possíveis cenários de extremos climáticos
"Qual é a forma de você se preparar para estar o que chamamos de mais resiliente possível para essas mudanças? As cidades que tem verde possuem maior prorrogativa para manter o verde, o problema é com as cidades que não tem, porque elas terão que investir, fazer reflorestamento e é um investimento muito maior. Então, se a gente perde o verde hoje, no futuro iremos refazê-lo por um preço muito maior. Tudo o que temos deveria ser mantido, e se for perdido teremos eventos extremos como muitas chuvas, muito calor e desastres que vão afetar a cidade e a região. Estamos perdendo muito em relação à proteção ambiental, nas regiões que são mais importantes."
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