Por Murilo Cunha Em RMVale

Moradores de São Luiz falam sobre o cancelamento do carnaval

Medida adotada pela prefeitura dividiu opiniões na cidade

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Folia, que reuniu 150 mil pessoas em 2016, não será realizada neste ano.

Cris Bittencourt/Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

O cancelamento do tradicional carnaval de marchinhas de São Luiz do Paraitinga, anunciado pela prefeitura nesta segunda-feira (23), dividiu as opiniões de moradores, empresários e artistas ligados à folia. Enquanto uma parte acredita que a medida será benéfica para as finanças da cidade e para a organização da próxima festa, outra afirma que faltou diálogo com a comunidade e que a administração municipal poderia ter procurado fazer uma festa de menor proporção em vez de cancelar todo o evento.

De acordo com a prefeita Ana Lucia (PSDB), a cidade possui uma dívida de R$ 2.364.700 milhões, o que inviabiliza a realização do carnaval. Além de dívidas referentes ao carnaval do ano passado, a administração municipal aponta outros problemas, como dívidas com fornecedores e prestadores de serviço, com o INSS e com a Santa Casa da cidade, e o sucateamento da frota municipal, que teria mais da metade dos veículos quebrados.

Em nota, a prefeitura afirma que a administração passada não realizou a transição de governo, impedindo que a situação financeira do município fosse conhecida com antecedência.

Tradições não vinham sendo respeitadas

Na cidade, há um consenso de que as tradições da cidade vinham se perdendo com a popularização da festa. Moradores ouvidos pelo Portal Meon se queixaram de turistas que insistiam em tocar músicas de outros gêneros musicais e que se envolviam em brigas ou consumo de drogas nas ruas. Eles acreditam que a “pausa” pode ser uma oportunidade de se repensar a organização da festa.

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“Eu acho que a gente precisa corrigir o nosso carnaval, que não tem sido mais como antigamente. Agora a gente pode estudar propostas para trazer de volta a nossa cultura, que acabou se perdendo com o tempo. Vamos ter um ano para sentar e planejar”, afirma o empresário Thiago Izer.

A balconista Vera Lúcia de Oliveira concorda. “Eu não sou contra o carnaval, mas no último ano teve muita desorganização, muito quebra-quebra. Tem que ser uma coisa organizada. A prefeitura está com muitas dívidas e o hospital não tem capacidade para aguentar a multidão de gente que chega passando mal, bêbada ou drogada. Eu concordo que, nesse ano, não dá pra fazer a festa”, afirma.

Repercussão

O cancelamento da festa, que atraiu cerca de 150 mil foliões no ano passado, já era esperado por boa parte dos luizenses – boatos de que o carnaval não ocorreria já circulavam pela cidade há semanas. Mesmo assim, a notícia dividiu opiniões.

“Essa medida afeta diretamente os comerciantes da cidade. Trabalho em uma pousada, e boa parte da renda anual do estabelecimento parte do carnaval”, disse o morador Maílson Pereira. Segundo ele, a pousada já havia reservado mais de 50% dos quartos. “Com certeza, boa parte vai desistir de vir. Isso prejudica os funcionários, que agora vão viver uma insegurança quanto aos empregos”, disse.

Já o gerente de outra pousada, Felipe Silveira, afirma que não houve nenhum cancelamento até agora. “Pelo contrário, apareceu mais gente. A gente enviou e-mail para os hóspedes explicando a situação. Nos surpreendeu bastante, porque achávamos que o povo ia desistir. A gente tinha 12 quartos reservados, agora apareceram mais três”.

A moradora Angélica Corrêa disse que “não faz sentido” a prefeitura manter a festa. “Sou a favor, não dá para a cidade se afundar ainda mais só para bancar o evento. A administração anterior foi muito irresponsável ao longo dos últimos quatro anos, em todos os sentidos. Agora é hora de botar ordem na casa”, afirmou.

Na opinião de alguns grupos, a prefeitura poderia ter tentado viabilizar uma festa mais enxuta junto às associações municipais, em vez de optar pelo cancelamento total. “Se fizessem uma festa menor, sem caminhão de som, com banda no chão, todo mundo ia entender. Ia ter um carnaval menor, mas as pousadas iam garantir o movimento, os músicos iam tocar... É uma festa que movimenta a economia local, o pessoal aluga as casas esperando ganhar dinheiro e passar alguns meses sem sufoco”, sugere Galvão Frade, compositor de marchinhas e criador do tradicional Bloco da Maricota.

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Mesmo sem apoio da prefeitura, grupos pretendem desfilar pelas ruas da cidade por conta própria.

Murilo Cunha

“O carnaval não é da prefeitura, é uma manifestação cultural que tem que acontecer como sempre aconteceu. A prefeitura tem só que oferecer as condições de segurança e de saúde. A parte dos blocos, bonecos e música, que fique por nossa conta”, afirma Gisele Vieira, responsável pelo bloco Bicho de Pé.

Mesmo com a festa cancelada oficialmente, alguns agentes culturais pretendem botar os blocos nas ruas para animar a cidade. “A gente vai sentar e tentar organizar as manifestações na cidade. Vamos precisar do aval [da prefeitura], mas é algo que vai ter que ser batalhado por nós mesmos”, disse a nova presidente da Associação dos Blocos de São Luiz do Paraitinga, Ana Rosa Moradei.

“A gente está fazendo de tudo para que aconteça, lutando, tentando unir os comerciantes. A marchinha é uma coisa especial pra gente. São 32 anos de tradição, é uma coisa que a gente não pode deixar perder”, defende Thiago Izer.

A cantora Mayara Ferreira, da banda de marchinhas Quar’d Mata, concorda: “Eu acredito que o luizense vai encontrar um meio de pôr pra fora as canções da cidade. Da minha parte, estarei sim, de chitão nos quatro dias, e com a minha voz disponível pro que der e vier”, disse.

Outro lado

O Portal Meon não conseguiu encontrar o ex-prefeito, Alex Torres (PR), para comentar as declarações da atual administração.

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