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Loja que proibiu a entrada de homens em São José é alvo de ataques na internet

Ativistas digitais ligados a grupos de direita criticam a medida adotada pelo estabelecimento

Escrito por Gabriel Campoy

01 FEV 2022 - 12H24 (Atualizada em 07 FEV 2022 - 18H05)

Divulgação

A Mr. Luxos, loja da empresária e influenciadora digital Andrea Costa, em São José dos Campos, foi alvo de ataques no último sábado (29) após a proibição da entrada de homens no estabelecimento viralizar.

Segundo a influencer, o motivo da proibição foi “a depreciação que alguns homens faziam” do corpo de suas mulheres ou acompanhantes na hora de provar alguma roupa.

“Tinha alguns deles que vinham com a esposa e faziam toda essa depreciação e, na maioria das vezes, não deixavam a coitada levar nada. Voltavam no outro dia com garotas de programas, amantes, e compravam o que elas queriam [...] infelizmente é o único jeito de trabalharmos”, desabafou Andrea na ocasião.

Um movimento realizado pelo influenciador joseense Wallace Prado, que apoia pautas conservadores, teria incentivado um grupo de pessoas a darem notas negativas à loja em uma ferramenta de avaliação do Google na internet.

O paratleta olímpico Fabio Bordignon, representante brasileiros nas Paraolimpíadas de 2016, no Brasil, e nos Jogos ParaPan-Americanos, em 2019, no Canadá, entrou no debate afirmando que passaria na loja para "por a dona no eixo”.

“A causa que você está falando é válida, já a forma que está lutando não é. Então estarei aqui defendendo meus ideais, meu caráter e minha opinião. Ainda sou livre e não vivo em uma Cuba, Venezuela, China ou Coreia do Norte, não podendo dar minha opinião”, escreveu o atleta em um vídeo publicado pela influencer.

Arquivo Pessoal/Andrea Costa
Arquivo Pessoal/Andrea Costa

Em um print cedido pela empresária à reportagem do Meon, outro homem argumenta com a influenciadora que a “razão” do problema enfrentado por ela na loja seria em razão da roupas que estaria vendendo e vestindo.

Andrea afirma que este homem chegou a aparecer na loja e questionou a medida imposta pela empresária. Segundo Andrea, no momento do ocorrido, as vendedoras que estavam realizando atendimentos on-line no interior da loja tentaram dialogar com o rapaz perguntando o porquê de estar ali.

“Chamamos o segurança para tira-lo de lá e fiz um boletim de ocorrência em seguida”, disse a empresária.

Advogada afirma que pedirá medida protetiva contra os três homens citados pela empresária.

Advogada de Andrea Costa, Stephanie Azevedo, afirmou à reportagem que pedirá medida protetiva contra Wallace Prado, Fábio Bordignon e o homem que foi até a loja, por, segundo ela, orquestrarem ações de difamação do estabelecimento nas redes sociais.

Além da medida protetiva contra os três acusados pela empresária, a doutora afirmou que entrará com uma ação contra o Google, já que, segundo ela, a plataforma não poderia tirar uma página do ar por discurso de ódio, algo que ela reitera não ter acontecido.

“Eles não podem tirar uma página do ar por discurso de ódio. Eles não são o órgão responsável para analisar isso. O que a Andrea fez não foi um discurso de ódio e sim uma medida assecuratória para defender a intimidade feminina, algo que é respaldado pela constituição e pela Lei Maria da Penha. A partir dessa linha de raciocínio é que temos aplicativos voltados ao público feminino, vagões exclusivos para mulheres, entre outros. Então a partir do momento que a plataforma tira a página do ar pautada em um falso discurso de ódio, ela precisa ser responsabilizada”, explicou Stefhanie.

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O outro lado

A reportagem entrou em contato com os envolvidos citados pela empresária e sua advogada para saber o posicionamento dos três.

O paratleta Fábio Bordignon atendeu nossas solicitações e afirmou que a empresária quis atingir sua imagem e que sua opinião emitida não é crime.

“O posicionamento que ela teve, na minha opinião, é errado. Não quero aplaudir um “assédio”, até porque sou contra isso. O que exponho no comentário é a minha opinião. A luta dela é plausível, mas não é a forma de se lutar por isso”, diz Fábio.

Além disso, Fábio afirma que o comportamento assediador não é uma “exclusividade” dos homens, dizendo ter sido, inclusive, “vítima” da prática.

“Existem homens e mulheres com esse tipo de comportamento. No mundo que vivemos existem mulheres que praticam assédio. Eu, inclusive, recebo diversas fotos de mulheres se insinuando. Quem negar isso é negacionista. Eu, contudo, não exponho e não respondo. O assédio existe para homens e para mulheres. Mais para as mulheres, eu admito”, afirma.

Por fim, o paratleta diz que caso a influenciadora tentar rotula-lo como um “defensor de assediadores, estupradores ou coisas do tipo”, ele entrará com uma ação judicial.

"Se ela quiser me rotular como um defensor de assediadores ela terá que provar. O argumento dela para essa ação é ela, ou alguma das funcionárias, não sei bem, ter sido assediada. Se for assim, em caso de eu ser assaltado por um negro, eu teria que restringir todos os negros do convívio na sociedade? Não devemos generalizar”, afirmou

Já Wallace Prado, influenciador joseense de direita, enviou uma nota a respeito do ocorrido explicando sob seu ponto de vista a confusão. O jovem, que foi candidato a vereador em São José dos Campos pelo PTC em 2020, afirmou não ter realizado nenhum ataque à loja de Andrea Costa.

“Eu não promovi nenhum 'ataque' à loja dela, nem à proprietária. Apenas divulguei a possibilidade de utilizarem a plataforma do Google para deixarem sua avaliação sobre a loja (inclusive nem divulguei a MINHA avaliação). Não tenho culpa nenhuma se a maioria das pessoas massivamente avaliaram de maneira negativa a empresa, isso foi apenas um reflexo das atitudes ilegais e preconceituosas dela. Assédio e importunação sexual são comportamentos inadmissíveis, inclusive crimes tipificados por lei, bastava o registro das ocorrências na delegacia mais próxima. Imaginou se ao invés de 'homens' na placa, estivesse escrito 'mulheres', 'gays' ou 'negros'? Isso não é uma atitude tolerável”, diz o comunicado.

O Meon tentou entrar em contato com o terceiro envolvido, que foi barrado de entrar no estabelecimento, através de suas redes sociais e por telefone, mas ele não havia respondido às solicitações até o fechamento da matéria.

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