George Furlan lançou Beirage, livro publicado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de São José, em março
Foto: Daniel Brás/Divulgação
O livro de poesias Beirage, de George Furlan, publicado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos, gerou revolta entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e representantes de movimentos conservadores. As ações promocionais do livro foram suspensas pela FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo), por tempo indeterminado.
Com tiragem de 5.000 exemplares e custo de R$ 20 mil, a obra foi lançada em março em bibliotecas públicas da cidade. As apresentações foram divulgadas no site da prefeitura e da fundação.
Entre os cerca de 70 poemas do livro, dois são os alvos de protesto. Em um deles, intitulado Segunda-feira, o autor utiliza 'palavrão' para fazer críticas ao presidente, à bancada evangélica, e a outros grupos políticos (leia abaixo).
No outro poema, sem título, Furlan também utiliza palavras consideradas obscenas para criticar a ditadura e a opressão à liberdade de gêneros, entre outros (leia abaixo).
Para o escritor George Furlan, é natural que a poesia aborde temas políticos e sociais atuais e cause impacto na sociedade. “Estão falando de duas temáticas, mas o livro é muito mais que isso. Beirage valoriza a linguagem cabocla, fala de redondilha, de calango e muitas outras”, disse o poeta.
Ele disse que na manhã desta quarta-feira (15) foi informado pelo Conselho Gestor da Fundação Cultural que as ações promocionais do livro foram suspensas ‘até que se esclareça essa polêmica’.
O MBL (Movimento Brasil Livre) de São José dos Campos e a deputada Letícia Aguiar (PSL) estudam possíveis medidas jurídicas para possível responsabilização do uso de dinheiro público nesta publicação e para evitar que outras obras com ‘conteúdo ideológico’ sejam publicadas com recursos públicos.
“Recebi uma cópia digitalizada e fiquei bastante impactada com o conteúdo desse livro sendo financiado com dinheiro público. A gente combate que recursos públicos sejam usados para financiar linha ideológica, nem à direita nem à esquerda. O dinheiro do contribuinte deve ser respeitado”, disse a deputada estadual Letícia Aguiar (PSL), de São José dos Campos.
A deputada ainda criticou o que chamou de ataque ao presidente Bolsonaro. “Ele [o autor] usa uma linguagem chula, bastante obscena e de ataque ao presidente, a maior autoridade do país. Independente do partido, se tivesse na presidência uma outra pessoa, eu também defenderia que ele fosse respeitado”, disse Letícia.
Thomaz Henrique Barbosa, coordenador regional do MBL, disse que é contra qualquer tipo de censura a qualquer obra. "O escritor tem direito de publicar o que ele bem entender, agora que ele busque para isto um mecenas privado, recursos próprios, e não que retire, que arranque, do dinheiro público para publicar este tipo de obra", disse Thomaz.
Ele ainda questiona o papel da Fundação Cultural, que poderia ter descartado o livro ao selecionar os projetos que receberiam o financiamento. "Essas obras são submetidas ao Conselho da Fundação Cultural, e as que não são aprovadas nao são alvo de censura, simplesmente não contam com subsídio público para serem publicadas", disse o coordenador do MBL.
FCCR
Procurada pelo Meon, a Fundação Cultural Cassiano Ricardo informou que os projetos do Fundo Municipal de Cultura são analisados e pontuados por uma Comissão de Seleção Externa, cujos membros são indicados pelo Conselho Gestor, que gerencia os projetos de maneira independente e autônoma.
A instituição diz ainda que "essa comissão faz a análise artístico-cultural e documental, promovendo uma ordem classificatória dos projetos apresentados, que serão viabilizados. O Conselho Gestor é responsável pela elaboração dos editais, fiscalização e homologação dos resultados."
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