O Coletivo Afrobrasilidades – Articulação Negra de Ubatuba protocolou, nesta quinta-feira (15), uma carta na Fundart (undação de Arte e Cultura) de repúdio e indignação ao black face (rosto pintado de preto) apresentado por uma dupla premiada no Festival de Marchinhas Carnavalescas de 2018, em Ubatuba. Segundo o manifesto, a performance é historicamente opressora e racista.
O grupo destaca que o preceito fundamental da liberdade de expressão não consagra o “direito à incitação do racismo” e que "o negro e a negra não são fantasia". Afirma ainda que o objetivo da carta é repudiar toda e qualquer ação difamatória, opressora e que reforce o maior crime já praticado contra a humanidade: a escravidão.
"[A performance] Coloca o negro enquanto ser ridicularizado, como elemento à margem da sociedade, carregado de chacota, estereótipos e demais estigmas de um país que viveu séculos de escravidão, nós, ativistas desse movimento negro, nos colocamos perante a Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba – FundArt e a esses artistas para evidenciar que tal ato é violento", diz trecho da carta. O manifesto lembra ainda que qualquer ato que menospreze a raça negra ou que possa ser caracterizado injúria racial configura crimes previsto na legislação.
O grupo ressalta que reconhece os trabalhos culturais realizados pela FundArt e a importância no cenário artístico de Ubatuba dos artistas que apresentaram a performance, principalmente no que tange à cultura caiçara.
"No entanto, por mais que o uso da blackface possa não ter, nesse caso, a intenção de rebaixar ou ofender ninguém, não quer dizer que não o faça. Ademais, quando se trata do órgão gestor da cultura no município, combater esse tipo de manifestação racista, por essência, deve fazer parte de sua política cultural cotidiana, por isso, nosso questionamento se encontra também no fato de que até o atual momento a mesma ainda não se posicionou", diz o coletivo.
O grupo lembra ainda que o objetivo original do black face era não somente a humilhação do ser negro através de uma caricatura exagerada, mas também impossibilitar que indivíduos negros fossem capazes de representar a si mesmos, sendo uma forma pouco sutil e muito eficaz de manter atores negros longe dos palcos.
"O black face retrata de maneira esdrúxula o indivíduo negro, com reforço de estereótipos criados e perpetuados pelo homem branco, numa tentativa de padronização dos nossos corpos, dos nossos cabelos e da nossa pele", diz trecho da carta, que foi assinada coletivamente por integrantes do movimento negro de Ubatuba.
"Amparados pela Constituição Brasileira que prevê pena de reclusão por atos racistas, exigimos que tal prêmio seja revisto e retirado pela FundArt, além de retratação pública por parte dos artistas em questão e do poder público", pede os signatários.
Outro lado
A Fundart divulgou uma nota informando que como fomentadora da atividade artística livre fez a seleção das composições segundo previa o edital, e que nenhuma apresentava menção racista ou de cunho segregatório e ofensivo. Segundo a nota, as fantasias só foram conhecidas pela Fundação, comissão julgadora e público no ato da apresentação de cada artista.
A entidade ressalta que, apesar de não ter havido intenção por parte dos artistas premiados ou da Fundação de menosprezar a etnia negra, promover a segregação ou ofender, após a repercussão legítima dos grupos de representatividade negra, a FundArt decidiu excluir os registros fotográficos oficiais de sua rede social e se compromete a criar normas mais rígidas para a participação no festival de marchinhas e fantasias em seus próximos editais.
O Meon procurou os artistas para repercutir a manifestação e a decisão da Fundart, mas até as 19h50 não tinha tido retorno dos mesmos.
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