Dados atualizados do Conselho Federal de Odontologia mostram que o Brasil tem aproximadamente 360 mil dentistas em atuação, o maior número entre todos os países. Ironicamente, o país também tem a maior quantidade de pessoas sem nenhum dente na boca.
Além da falta de informação e renda baixa, outro motivo afasta as pessoas da cadeira do dentista. “O brasileiro tem cultura de ir ao dentista quando o dente dói ou quebra, porque acha que custa caro, mas fica caro porque deixou estragar”, diz a dentista Cristina Rodriguez, da clínica OdontoHi.
A procura pelo profissional é quase sempre pelos motivos básicos: limpeza, cáries e extração de sisos, que causam dor, sangramento ou desconforto; e bruxismo, um problema decorrente de estresse, ansiedade e sono de má qualidade. Depois, vem a estética. “A pessoa acha que o dente está ficando amarelo ou torto”, comenta Rodriguez.
Questionada sobre a separação entre a cobertura dos problemas bucais e do resto do corpo, estabelecida pelos convênios, a dentista afirma que a saúde do corpo começa pela boca e isto “não é clichê”.
“Temos muitos pacientes que chegam com problema no coração, com dor no fundo dos olhos e dor de cabeça que (nos casos específicos) são decorrência de mau posicionamento dentário ou de placa bacteriana. O paciente perde um dente, o organismo faz que ele mastigue mais de um lado que do outro, sem perceber. A sobrecarga começa a causar vários outros problemas”.
“Os convênios querem economizar ao não incluírem os problemas odontológicos, mas estão aumentando a conta dos outros problemas médicos”, analisa a especialista.
A condição está entre as mais comuns da boca; estima-se que cerca de 70% dos brasileiros sejam afetados. Nos Estados Unidos, por exemplo, a porcentagem é de aproximadamente 20%, pois produtos tecnológicos voltados à saúde bucal, como escovas elétricas, são mais acessíveis.
Retração gengival é a condição em que a gengiva se afasta da coroa do dente, expondo parte da raiz, que já não tem a mesma cobertura de proteção e, por isso, fica sensível. O problema aumenta a sensibilidade a alimentos quentes ou frios.
“Quando a retração não é tratada, o dente pode ficar com aparência de mais longo. Acontece com mais frequência no canino e nos dois dentes na sequência do canino, em direção ao fundo. É pela dor ou pela estética que as pessoas chegam ao dentista. (...) Uma vez que a gengiva retrai, não volta mais sozinha ao que era”.
Algumas das causas do problema têm a ver com maus hábitos, como força na escovação. “O ideal é segurar a escova com as pontas dos dedos (em vez de segurá-la com o punho fechado), para não colocar força, e começar a escovar pela parte de cima dos dentes”, descreve a dentista.
Mau posicionamento dentário também é uma das causas; o uso de aparelho dentário pode ser recomendado.
Outro fator são as doenças periodontais -- infeções causadas por bactérias que afetam gengiva, osso e as fibras que estabelecem a união entre a raiz do dente e o osso.
“Nas pessoas com tendência a acumular mais tártaro, por exemplo, e que não visitam o dentista com frequência, a película de tártaro desce abaixo da gengiva, que é bastante sensível, então, ela inflama e se descola do dente. Um sinal disso é sangramento ao passar o fio dental”, explica Rodriguez.
“A gengiva protege as áreas mais sensíveis do dente. Quando o paciente não vai ao dentista fazer limpeza profissional e continua acumulando placa e bactérias, isso desce até o osso, que se afasta da região inflamada, baixando de nível”. O tratamento é fazer limpeza com frequência, mas o osso que desceu não volta mais ao lugar em que estava. A gengiva acompanha esse osso, originando retração gengival.
Segundo a dentista, o estresse também interfere, já que acentua qualquer predisposição que o corpo tenha. “Se a pessoa desconta o estresse na mordida, sobrecarrega com mais velocidade as estruturas ósseas, também causando retração”.
Os tratamentos para a retração gengival incluem uso de aparelhos odontológicos, limpeza profissional e mudança nos hábitos de higiene.
“Depois de limpar é que podemos recobrir a área exposta com resina da cor do dente, mas isso não altera o aspecto de dente longo. Nesse caso, o recomendado é o enxerto gengival, em que retiramos tecido do céu da boca para cobrir a área exposta. Hoje em dia, o procedimento não dói e o pós-operatório é confortável”, conclui a dentista.
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