GUAYAQUIL, EQUADOR (FOLHAPRESS) - Ninguém quis o apoio de Lenín Moreno, 67, para a eleição presidencial deste domingo (7).
O atual presidente do Equador chega ao fim de seu mandato com magros 7% de popularidade, de acordo com o instituto de pesquisa Click Report. O número o coloca como o pior líder na atualidade na América Latina, perdendo até mesmo para Nicolás Maduro (ditador da Venezuela, com 12%) e Sebastián Piñera (presidente do Chile, com 10%).
"Moreno sequer cogitou disputar a reeleição por saber que não tem chances. Termina o governo como um presidente fraco, que não soube criar um clima de governabilidade nem uma imagem de conciliação nacional. Tampouco mostrou habilidade para lidar com as várias crises de sua gestão", diz à reportagem o cientista político Simón Pachano.
Nos cartazes de campanha presentes nas ruas de Guayaquil, a maior cidade do Equador, sua imagem nem mesmo aparece. "Ninguém quis sair na foto com ele, seu apoio direto atrapalharia qualquer candidatura", conclui Pachano.
Era difícil imaginar o cenário atual na noite de 2 de abril de 2017, quando as ruas das principais cidades equatorianas se encheram de bandeiras verdes, a cor do Aliança País -o partido de centro-esquerda que está no poder desde 2007 e do qual Moreno faz parte.
Num palco armado em uma avenida no centro da capital, Quito, o presidente eleito foi aplaudido e até cantou uma música para celebrar a vitória no pleito, que tinha sido confirmada naquela noite. Ao seu lado --e o cobrindo de elogios-- estava sorridente, seu padrinho político, o então presidente Rafael Correa (2007-2017).
A promessa era de que o Equador teria um líder que seguiria o projeto esquerdista do então mandatário, mas em uma versão menos autoritária, com menos ataques a instituições e a opositores. Moreno era conhecido por ser mais calmo e por preferir dialogar, ao contrário da mão firme do padrinho.
A realidade, porém, foi outra. A começar pela relação com o próprio Correa, que deteriorou rapidamente. Ao não aceitar ser um fantoche do ex-presidente, e ao estimular que avançassem as investigações por corrupção contra a antiga gestão, Moreno não só rompeu com o antecessor, mas acabou atraindo o ódio do ex-padrinho.
Moreno foi o vice-presidente durante os dois primeiros mandatos de Correa, entre 2007 e 2013.
Da Bélgica, onde vive, Correa passou a fazer campanha contra a gestão de Moreno --o ex-presidente acabou sendo condenado por corrupção.
O embate com o ex-padrinho agradou parte da sociedade equatoriana que rejeitava Correa, mas dividiu o apoio dentro do partido do governo. Por causa do racha dentro do Aliança País, Moreno nunca conseguiu uma maioria clara dentro da Assembleia Nacional para aprovar seus projetos.
A divisão, inclusive, se mantém na eleição agora de 2021. A ala do partido próxima a Correa apoia o candidato do ex-presidente, Andrés Arauz, que lidera as pesquisas.
Já o nome oficial do Aliança País na disputa, a deputada Ximena Peña, tem evitado aparecer com Moreno durante a campanha. Mesmo assim, ela está entre os últimos colocados segundo os levantamentos, com cerca de 1% das intenções de voto.
Moreno também desapontou sua base ao impor políticas de ajuste fiscal e ao pedir um empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional) de U$S 4,2 bilhões (R$ 22,8 bilhões, pela cotação atual). Segundo ele, as medidas foram necessárias porque Correa endividou o país para aumentar os gastos sociais durante sua gestão.
Entre as medidas tomadas por Moreno para resolver o problema nas finanças públicas foi o aumento do combustível, em 2019. A ação levou a uma série de conflitos violentos, principalmente com a população indígena.
Este grupo foi em massa para as ruas de Quito para protestar contra o aumento --os confrontos com a polícia deixaram 11 mortos e mais de 1.500 feridos.
Com as manifestações, Moreno teve de retroceder para chegar a um acordo com os sindicatos indígenas e acalmar as ruas. Ainda assim, ficou pendente uma solução para a nítida cisão da sociedade entre o interesse da população branca e o dos membros de distintas etnias indígenas que compõem a população equatoriana.
Foi nesse cenário que a pandemia do coronavírus atingiu em cheio o Equador. As imagens de hospitais e cemitérios em colapso e das ruas de Guayaquil com caixões abandonados viajaram o mundo e foram uma das primeiras imagens do que o vírus causaria na região. Depois, houve um pico também em Quito.
Moreno agiu de modo lento, e levou semanas para implementar as primeiras medidas de emergência. No caso de Guayaquil, enviou o Exército para, de forma confusa, organizar funerais coletivos sem que fosse permitido identificar quem estava sendo enterrado.
Depois de uma queda no número de contágios, agora os epidemiologistas apontam para a chegada de uma segunda onda de contaminações. Moreno foi lento também na negociação de vacinas, e até agora apenas 8.000 equatorianos receberam a primeira dose da vacina da Pfizer. As demais negociações estão incertas e não há uma programação nacional de imunização.
Até esta quinta (4), o Equador tinha registrado 252.390 casos de Covid-19, com 14.949 mortes -o país tem 17 milhões de habitantes.
A gestão Moreno enfrenta ainda acusações de corrupção durante a pandemia. A Procuradoria-Geral do Estado abriu investigações sobre cobranças de taxas em hospitais públicos e sobre o desvio de verbas para compra de insumos e respiradores.
Além dos problemas sanitários, Moreno ainda deixou de cumprir uma série de promessas de campanha, como a distribuição de moradia e de assistência social.
Ele acabou frustrando a esquerda ao não cumprir suas propostas progressistas de redistribuição de verbas. E, ao contrário da promessa de criação de empregos, mais de 600 mil equatorianos passaram a estar desempregados em sua gestão, segundo os dados do Instituto Equatoriano de Estatística e Censo. O fato de ter pedido o empréstimo ao FMI e de não ter cumprido sua parte no acordo acabou por desgastar ainda mais sua imagem.
Do outro lado do espectro político, a centro-direita e a direita o culpam pela recessão econômica e pela falta de pulso para adotar políticas de austeridade. O Equador continua com uma dívida de US$ 60 bilhões, o que não colabora para o ambiente de negócios e o acesso a linhas de crédito internacionais.
Também reclamam por conta das acusações de corrupção e o aumento da insegurança, principalmente nas grandes cidades.
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