Brasil

Um debate necessário sobre utilização de drones

Especialista analisa uso do equipamento

Escrito por Meon

16 ABR 2025 - 10H24 (Atualizada em 16 ABR 2025 - 10H29)

Nei Salis Brasil Neto

Por: Nei Salis Brasil Neto

Os drones se tornaram protagonistas de uma revolução tecnológica que abrange desde o agronegócio até a segurança pública. Com aplicações em monitoramento, inspeções de infraestrutura, logística, operações policiais e até resgates, essas aeronaves redefiniram o conceito de eficiência no ar. No entanto, a crescente dependência dessa tecnologia exige uma reflexão sobre riscos que vão além de falhas operacionais. No cerne da discussão, está a necessidade de regulamentações que resguardem a soberania do Brasil e protejam dados sensíveis gerados ou coletados por esses dispositivos.

O debate sobre drones ganhou destaque internacional, sobretudo nos Estados Unidos, onde o governo vem adotando uma série de medidas para restringir a comercialização e a operação de modelos fabricados na China, país que domina este mercado. A preocupação da Casa Branca é que vulnerabilidades em softwares e equipamentos possam ser exploradas por atores estrangeiros para coletar dados sigilosos em massa (pessoais e industriais) ou interferir em operações críticas.

No Brasil, os drones são amplamente utilizados em setores estratégicos como energia, agronegócio e segurança. Há mais de 100.000 deles registrados atualmente no país, e este número não para de crescer. Contudo, a falta de regulamentações específicas pode expor o país a riscos similares aos identificados em outras nações. Atualmente, grande parte dos equipamentos utilizados é importada, predominantemente de fabricantes chineses. Essa dependência aumenta a vulnerabilidade do Brasil em áreas sensíveis, como a proteção de dados relacionados à Defesa e à Segurança Nacional.

Sem regras claras, a coleta e o armazenamento de dados obtidos por drones podem ficar sujeitos a normas internacionais ou a interesses de terceiros, comprometendo nossa soberania digital. Além disso, o uso desses dispositivos por empresas privadas e órgãos públicos requer garantias de que dados confidenciais estejam protegidos contra acessos indevidos.

Para fortalecer a soberania e garantir a segurança dos dados gerados por drones, é fundamental que nosso país adote uma abordagem mais robusta em termos de regulamentação. Entre as medidas possíveis estão processos obrigatórios de certificação para fabricantes e distribuidores, assegurando que equipamentos atendam a padrões mínimos de segurança, e a avaliação de origem dos drones utilizados em áreas sensíveis, com restrições à aquisição de dispositivos de países considerados de risco. Há também a necessidade de normas claras sobre onde e como os dados captados por essas aeronaves podem ser armazenados, com prioridade para servidores localizados no Brasil. Paralelamente, o incentivo ao desenvolvimento de tecnologias nacionais contribuiria para a redução dessa dependência externa e ampliação da competitividade no mercado global.

Assim como os Estados Unidos estão agindo para proteger suas infraestruturas estratégicas, o Brasil também precisa olhar além das aplicações imediatas dos drones. O que está em jogo não é apenas a eficiência logística ou operacional, mas a soberania de informações que podem impactar decisões críticas no futuro.

Os drones trouxeram inúmeras possibilidades, mas também levantaram questões sensíveis que não podem ser ignoradas. Uma regulamentação bem planejada é essencial para que essa tecnologia seja um ativo, e não uma ameaça, ao futuro do Brasil.

Nei Salis Brasil Neto

Pioneiro da indústria de drones no Brasil. Cofundador da FT Sistemas, uma das primeiras Empresas Estratégicas de Defesa país, e da VOA, apontada como uma das 10 melhores Agtechs do Brasil. Atualmente, é head de Drones da JACTO, multinacional brasileira que atua em segmentos como agrícola, polímeros, transporte e logística e médico-hospitalar. Como representante da Indústria de Drones, foi membro do Unmanned Aerial Systems Study Group da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional - Montreal) e coordenador dos grupos de trabalho de Drones da AIAB e ABIMDE.

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