Com o aumento da expectativa de vida, a doença de Alzheimer tem se tornado uma das principais preocupações no campo da saúde pública. De acordo com o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional, especialista em doenças neurodegenerativas e pesquisador da Unicamp, os avanços da ciência permitem falar atualmente estratégias para postergar a evolução da doença, diagnóstico e tratamento precoces.
No Brasil, o Alzheimer afeta cerca de 1,76 milhão de pessoas, representando aproximadamente de 50% a 60% dos casos de demência. Já globalmente, a doença é responsável por até 70% dos casos de demência nos países desenvolvidos. Segundo uma pesquisa na Research, Society and Development realizada em 2023, a análise epidemiológica da doença no Brasil de 2013 a 2022 revela que 65% dos casos acontecem em mulheres.
Embora ainda não exista uma forma concreta para prevenir o Alzheimer ou uma forma de evitá-lo, alguns fatores protetores contra a evolução da doença têm mostrado resultados promissores. Segundo Dr. Valadares, tanto a atividade física quanto o estímulo cognitivo podem desempenhar um papel importante neste sentido.
“Exercícios físicos são comprovadamente um fator protetor para o cérebro. Além disso, manter-se intelectualmente ativo, por meio de leitura, interações sociais e outras atividades intelectuais, pode mitigar o aparecimento dos sintomas em pessoas com maior reserva cognitiva”, afirma o médico.
“Reserva cognitiva” é o conceito que explica como indivíduos mais engajados intelectualmente, ao longo da vida, conseguem postergar os sinais da doença. “Pessoas que se mantêm socialmente ativas e curiosas, interessadas em aprender novas habilidades ou que se mantém atualizadas em temas tecnológicos, por exemplo, podem aumentar essa reserva, diminuindo o impacto do Alzheimer”, complementa.
Diagnóstico precoce e tratamentos
O diagnóstico precoce é uma das chaves para oferecer tratamentos mais eficazes. De acordo com Dr. Valadares, identificar os primeiros sinais de comprometimento cognitivo leve, como pequenas falhas de memória ou dificuldades na execução de tarefas cotidianas, pode permitir intervenções mais cedo, o que ajuda a reduzir o avanço da doença. “As tecnologias de imagem e os avanços em exames laboratoriais também têm contribuído para diagnósticos mais precisos, identificando alterações neurodegenerativas antes do surgimento dos sintomas mais graves”, explica o Dr. Marcelo Valadares.
Apesar de não existir uma cura definitiva para o Alzheimer, os tratamentos atuais buscam melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Dr. Valadares explica que os tratamentos disponíveis têm como objetivo estabilizar os sintomas e proporcionar mais independência aos pacientes. “Medicamentos atuais, como inibidores da acetilcolinesterase e moduladores do glutamato, ajudam a amenizar a perda de memória e melhorar as capacidades cognitivas e comportamentais”, aponta.
Adicionalmente, terapias complementares, como fisioterapia e atividades cognitivas guiadas, são fundamentais para manter o paciente ativo e engajado, auxiliando no controle dos sintomas e no bem-estar geral. “Embora o tratamento farmacológico tenha seu valor, é fundamental que os pacientes sejam estimulados física e mentalmente, mantendo uma rotina de atividades que favoreçam tanto o corpo quanto o cérebro”, reforça o neurocirurgião.
Inovações em estudo
O campo de estudo do Alzheimer é vasto e está em constante evolução. Recentemente, pesquisadores vêm explorando novas abordagens terapêuticas, incluindo a utilização de anticorpos monoclonais para tentar remover as placas de proteína beta-amiloide, característica central da doença.
“Ainda há muito a ser descoberto, mas as pesquisas recentes trazem esperança, especialmente no que diz respeito a tratamentos que possam não apenas postergar a evolução da doença, mas, quem sabe, revertê-la em estágios iniciais futuramente”, conclui Dr. Valadares.
Cautela com promessas no tratamento do Alzheimer
A aprovação pela Food and Drug Administration (FDA) do donanemab, um anticorpo desenvolvido para frear a progressão da doença de Alzheimer, repercutiu amplamente na mídia recentemente. A nova droga promete expandir as opções de tratamento para o Alzheimer no mercado norte-americano. Mas será que essa aprovação realmente oferece uma nova esperança para os pacientes?
O donanemab demonstrou reduzir o declínio cognitivo em 35%, sendo o segundo medicamento aprovado para Alzheimer com esse objetivo.
Os benefícios são promissores, mas é essencial prestar atenção aos detalhes quando falamos em tratamentos para essa condição, alerta o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião especialista em doenças neurodegenerativas e pesquisador da Unicamp.
O medicamento atua auxiliando o corpo na remoção de placas amiloides no cérebro, característica marcante da doença de Alzheimer. A remoção dessas placas parece diminuir as alterações cerebrais associadas à doença. No entanto, ainda existem pesquisas conflitantes sobre a verdadeira causa do Alzheimer.
"É preciso cautela ao tratar o Alzheimer. Ainda não existe uma cura ou um medicamento que impeça completamente o desenvolvimento da doença. O que observamos é que esse tipo de medicamento pode enfraquecer progressão da doença nas fases iniciais. Portanto, em estágios mais avançados do Alzheimer, essa forma de tratamento pode não ser tão eficaz”, explica o especialista.
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