Desde a última segunda-feira, 30, uma cadela quase não sai de sua "caminha", tal o desvelo com que cuida de seus pequenos filhotes. Tudo normal, não fosse a "mãe" Lupita, da raça pinscher, e os "filhos", dois gatinhos resgatados de uma enxurrada. A lição de amor entre não iguais vem de Axixá do Tocantins, cidade localizada na região norte do Estado. A dona dos animais, a auxiliar administrativa Waniceia Nunes da Silva, de 40 anos, conta que os gatos foram jogados por cima do muro da escola em que trabalha e caíram numa poça d'água.
Chovia muito e a mulher os recolheu antes que fossem arrastados pela enxurrada. "Pensei em levar para casa, mas tinha um problema: minha cachorra Lupita nunca gostou de gatos", contou. Mesmo assim, ela levou os filhotes imaginando que logo acharia outro lar para eles. Para sua surpresa, a cachorra logo se interessou pelos recém-nascidos. "Eu estava preparando a mamadeira dos gatinhos e, só para testar, coloquei um deles perto dela. De imediato, a Lupita o acolheu."
Ela conta que a cachorra, que tem três anos de idade, havia entrado no cio mas não foi cruzada com outro cão da raça. Mesmo assim, ela produziu leite. "Foi a maior surpresa quando vimos ela amamentando os gatinhos. Depois disso, o leite dela até aumentou." A mulher, que tem outros três cães da raça pinscher, temia a reação dos outros animais e de seus familiares. "Todo mundo ficou muito admirado, mas houve aceitação completa", disse.
Em Tocantins, não é a primeira vez que cães e gatos formam uma única família. Em março deste ano, em Palmas, capital do Estado, a cadela Gabi, da raça lhasa apso, adotou o gatinho Zezé levado para casa pela filha da dona do cão, Melissa de Vasconcelos.
Em setembro do ano passado, em Crixás do Tocantins, no sul do Estado, após perder dois filhotes próprios, a cadela Lia, uma vira-lata, adotou o gatinho Xavier, que tinha sido abandonado na rua e foi levado para casa pela tesoureira Mareisa Aguiar. O gatinho estava desnutrido e Lia passou a amamentá-lo.
O veterinário Paulo Nogueira conta que o instinto materno na maioria dos animais é muito forte e a adoção de bichos de outra espécie acontece de forma mais comum com cadelas. "Mas ocorre também com outros animais. Já vi casos de ovelhas que adotaram porquinhos e até de uma galinha que adotou um gatinho. Na natureza, é clássico o caso dos chupins, que põem ovos nos ninhos de outras aves para que seus filhotes sejam criados pela outra família."
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