Por Victória Ventura Buijs | Colégio Poliedro Em Alunos Atualizada em 20 OUT 2020 - 14H51

“Sobre os Ossos dos Mortos”: a excentricidade da regência da natureza

Confira a resenha do livro de Olga Tokarczuk

Não se assuste pela capa, “Sobre os Ossos dos Mortos”, de Olga Tokarczuk, é um livro sombrio, mas não chega a ser assustador. A priori, a história que inicialmente parece ser um romance policial, apresenta ser um manifesto a favor dos animais, além de trazer assuntos como a loucura, a velhice e a solidão nas reflexões narrativas da excêntrica Janina Durhseiko.

A história se passa em uma remota região na Polônia, por essa razão, em praticamente todos os períodos está nevando, trazendo ao livro um clima fúnebre e desolado. No entanto, é possível identificar o tempo e espaço em que cada parte da narrativa se passa, mesmo com poucas descrições. Tudo começa quando um vizinho de Janina morre, engasgado com um osso de uma corça que ele mesmo caçou. Ao longo da história, desenrolam-se mais mortes, todas de pessoas que praticavam a caça. A partir desse detalhe, Sra Dusheiko começa sua teoria de que essas mortes não eram acidentes, mas assassinatos por parte dos animais como vingança pelas caçadas. Posto isso, ela passa a escrever cartas para a polícia explicando sua teoria, contudo, não é levada a sério, realçando a opinião de que os cidadãos têm sobre sua louca personalidade.

Simultaneamente às mortes, a história se acende com as reflexões da narradora e sua forma peculiar de ser, como sua televisão sempre ligada no mesmo canal, seu amor pelos animais, ou fascínio que possui pelo poeta inglês William Blake e pela astrologia, a qual acredita que rege a vida e, principalmente, a morte. Além disso, ela acredita que os seres humanos não pensam no verdadeiro significado das palavras e, por isso, dão nomes banais e alheios, que não tem, necessariamente, a ver com a pessoa. Por esse motivo, ela não gosta que a chamem pelo seu nome, e atribui denominações que surgem em sua mente da primeira vez que conhece alguém, como seu vizinho Esquisito, o policial Capa Negra, a escritora Acinzentada, entre muitos outros.

A velhice também é um assunto recorrente na trama, muitas vezes, tratada de uma forma singela, já que é o reflexo da narradora, uma senhora que vive sozinha com suas moléstias no meio do nada; embora Janina não aja como uma velhinha indefesa e seja, de fato, bem diferente da figura que é esperada dela. As mortes, o ambiente em si, os personagens e a forma como tudo se manifesta e como o tempo passa na história, apenas realçam o envelhecimento e os sentimentos experienciados nesse período.

Sobre os ossos dos mortos é uma alegoria acerca da vida e da morte, trazendo a revolta da natureza como fator que engloba os mais variados assuntos, apresentando críticas e reflexões, desde maneiras gritantes a formas sutis, por meio de uma mulher excêntrica que não é ouvida. Talvez seja isso que Olga Tokarczuk quisesse transmitir, Janina é a natureza, é a solidão, é a velhice e é a loucura, talvez todos nós sejamos excêntricos.

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Com supervisão de Nicole Almeida, jornalista do Grupo Meon.

Escrito por:
Victória Ventura Buijs
Victória Ventura Buijs | Colégio Poliedro

3° ano do Ensino Médio do Colégio Poliedro, em São José dos Campos

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