Toda manhã, acordo com o grito estridente do despertador, que, quando acaba, volta a fazer tic tac, tic tac. Um barulho hipnotizante me guiando a rotina de sempre. Todos os relógios da casa cantam em sinfonia: tic tac, tic tac.
Me arrumo, tic tac, o tempo passa.
Tomo meu café da manhã, tic tac, o tempo continua passando.
Saio de casa e olho o horário no relógio de pulso. Sigo andando pela rua ainda vazia, sempre olhando o relógio. As pessoas têm tantos compromissos que passam sua vida encarando os relógios e repetindo, não se atrase, não perca tempo, vá mais rápido. Todos tratam o tempo como o maior inimigo da humanidade, esquecendo que ele é uma dádiva. Queremos fazer tanta coisa ao mesmo tempo que, quando não conseguimos, culpamos o tempo. Preferimos tanto transformá-lo em algo tão mecânico e necessário que acabamos nos tornando também em máquinas dependentes do relógio. Sem ele, estamos perdidos e sentimos a necessidade de saber o horário, mas, ainda assim, o denominamos de vilão. Esquecemos de aproveitar nossa vida, nosso relógio; antes que quebre. Não sabemos o tempo de cada um, e, muitas vezes, parte desse tempo é arrancado. A ganância do próprio ser humano é o que mais nos destrói e mais nos rouba nosso precioso tempo.
Tic tac, o relógio continua passando. Chego ao ponto de ônibus, onde fico esperando. Tic tac, tic tac. O relógio continua cantando na minha cabeça. Tic tac, ele nunca para. Sinto a necessidade de checar a hora, mesmo tendo feito isso há poucos segundos.
Tic tac, o ônibus chega.
Tic tac, me sento e penso no tempo precioso que gasto todos os dias com coisas tão banais. Estou vivendo certo? Como aproveitar o tempo que nem sei se tenho? Acho que a única resposta é viver. E seguir com o relógio me dizendo tic tac repetidamente até quebrar. Também tenho de lembrar de proteger a sete chaves o precioso tempo que me resta antes que tentem roubá-lo.
Com supervisão de Yeda Vasconcelos, jornalista do Meon Jovem.
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