Verdades líquidas
Nada é mais sintomático destas eleições do que a personalização dos fatos para atender interesses específicos. O debate em torno das fake news pereceu nestes tempos de “verdades líquidas”, conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman. Não se trata mais de informações incorretas, apuração descuidada ou mentiras aparentemente verdadeiras dispersas em larga escala por cidadãos ávidos por compartilhar uma notícia até então “escondida” ou “desconhecida”.
No jornalismo profissional, há o expediente da ERRATA para se corrigir impropriedades ou mesmo erros grosseiros sobre fatos ou pessoas. Não sendo reparado o erro, há aplicações legais caso algum citado se sinta ofendido e aponte crimes contra a honra, tipificados como calúnia, injúria ou difamação.
Já na ciberdemocracia, os danos são calculados por meio da validação de narrativas para desconstruir algo ou alguém. Neste sentido, publicações apócrifas, o grande volume de informações duvidosas ou caluniosas e a certeza da impunidade que impera na internet serve a políticos ou grupos determinados. Fake news não é mais uma terminologia adequada. O recorrente agora é a manipulação a partir de um fato.
Assim sendo, é preciso que o cidadão queria deixar a caverna e abandonar as sombras da mentira e da manipulação. Platão ensina a deixar o que entendemos como proteção para observarmos o que nos aprisiona, inclusive opiniões distópicas plantadas artificialmente por narrativas a serviço de interesses próprios. Ser autônomo e livre pressupõe formular opiniões próprias, não endossar narrativas manipuladoras.
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.