Hoje é feriado de Nove de Julho ou dia da Revolução Constitucionalista de 1932. A ocasião, celebrada apenas no estado de São Paulo, marca o conflito armado que ocorreu de julho a outubro, de São Paulo e sul do Mato Grosso contra o Rio Grande do Sul e o resto do país.
São Paulo perdeu a batalha, mas conseguiu a constituição de 1934.
Foram construídas trincheiras em várias cidades do Vale do Paraíba, como Guaratinguetá (a última a ter se rendido), Cruzeiro, Lavrinhas, Aparecida, Cunha, Cachoeira Paulista, Taubaté, Areias, Silveiras e Lorena.
Embora não tenha havido conflitos em São José dos Campos, a cidade enviou joseenses para os campos de batalha. Ela abriga o monumento MMDC, em homenagem aos quatro jovens mortos durante manifestação constitucionalista: Martins, Miragaia (joseense), Dráusio e Camargo.
Com o golpe de 1930, em que Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil e pôs fim à política do café com leite (que garantia a alternância de poder apenas entre São Paulo e Minas Gerais, os mais poderosos economicamente), os paulistas passaram a reivindicar novas eleições e nova constituição.
Poucos conhecem a história e sua relevância, principalmente, para os valeparaibanos. No entanto, há quem trabalhe para compartilhar e recuperar este episódio da nossa história.
É o caso do funcionário público Filipe da Costa Oliveira, 37 anos, morador de Queluz, que vasculha trincheiras em busca de artefatos perdidos nas batalhas, como munições, moedas, balas de canhões, fuzis e mais. Ele utiliza detectores de metais, um deles construído por ele mesmo.
“Comecei a procurar nas trincheiras há uns três ou quatro anos, mas coleciono materiais da revolução desde os 13 ou 14 anos de idade”, relata Oliveira.
A curiosidade surgiu quando sua professora de história, Renata Garcez, comentou sobre as pilastras no centro do rio Paraíba do Sul. “São destroços da antiga ponte que foi dinamitada durante a revolução”, recorda-se.
“Já encontrei tudo quanto é tipo de material que você possa imaginar que seja usado numa guerra, mas material de pequeno porte, desde munição de fuzil até munição de canhão de 75 milímetros”, continua.
O explorador ressalta que os objetos encontrados já estavam 100% inertes, já que a maioria das trincheiras ficam em zonas de eucalipto, que sofrem queimadas constantemente. “O explosivo que não detonou com a queimada não detona mais”, afirma.
O paulista da RMVale conta que, ainda hoje, encontram-se peças da revolução espalhadas pelos campos de batalha. “Muitas vezes, você nem precisa de um detector de metal, os objetos estão na própria superfície, já desenterrados”, conta o colecionador, que já percorreu cerca de 70% das trincheiras de Queluz.
Oliveira mantém um acervo particular em Queluz, aberto aos visitantes com horário marcado. Também já doou grande parte dos artefatos à PM (Polícia Militar), museus locais e escolas públicas.
“Meu objetivo com essas doações foi realmente preservar a história do povo paulista, do soldado constitucionalista. Mesmo essa munição tendo vindo de uma cidade diferente, (talvez) doada por um quartel da PM lá de São Paulo, o Dois de Ouro, por exemplo, ela está lá representando o constitucionalista, porque grande parte do contingente que lutou na revolução era da Força Pública de São Paulo, que é a atual Polícia Militar de hoje em dia”, explica.
Além disso, o funcionário do Centro Cultural de Queluz Malba Tahan espera despertar a curiosidade das crianças por saber o que é, como foi e o que aconteceu durante a Revolução de 1932.
Seu esforço já rendeu até reconhecimento da Câmara Municipal de Queluz e Prêmio Ordem do Mérito Coninter Artes, concedido por Araraquara (SP), que recebeu doações de “bens históricos”, como cartuchos, projéteis, clipes de carregadores e fragmentos de morteiros, entre outros.
Sobre o orgulho paulista, Oliveira não hesita. “Com certeza me orgulho muito de ser paulista, porque o paulista, em 32, mostrou que São Paulo é a locomotiva do Brasil. Quando se viu fechado por todas as fronteiras, embargos federais e tudo o mais, São Paulo se tornou uma grande máquina de guerra, produzindo seus próprios armamentos e replicando alguns estrangeiros. Me orgulho não só por esse motivo, mas por vários outros também”, conclui.
Basta digitar “Revolução de 1932” nas redes sociais para encontrar grupos, inclusive da região, com membros ativos, que compartilham fotos e relatos de eventos marcantes.
Um deles é o Sociedade Veteranos de 32 - MMDC, ligado ao grupo fundado em 1954 por ex-combatentes da revolução, com o objetivo de preservar o episódio histórico na memória do povo de São Paulo.
Criador da comunidade online, o historiador Rodrigo Gutenberg, 35 anos, revela uma das principais características dessa revolução. “É consenso geral que a revolução é um capítulo muito importante na história do Brasil e de São Paulo porque tinha ideais nobres como democracia, liberdade e reivindicação de constituição”, explica.
Ele esclarece por que a nossa região teve tanta importância na época. “O Vale do Paraíba faz divisa com Minas Gerais e Rio de Janeiro, dois estados cruciais para que a revolução tivesse êxito. Não existiram batalhas em São José, mas era entreposto para outras cidades onde existiram, era utilizada para abastecer tropas e para outras atividades que o exército precisasse”.
O conflito de três meses teve fatos que impressionam os amantes da história, além da morte de MMDC. “Uma mãe que teve seus seis filhos combatendo na revolução; nenhum morreu. Outra mãe perdeu um filho na Revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana, em 1922 e, em 1932, perdeu o outro”, relembra Gutenberg.
“No 7 de setembro de 1932, um soldado paulista caminhou por uma área onde poderia levar tiros. Quando o viram pendurar a bandeira do Brasil, os outros soldados constitucionalistas prestaram continência e tocaram a Marcha Batida (composta pelo Major Joaquim Antão Fernandes, em 1894)”. Naquele 7 de setembro, os tiros do “outro lado” cessaram por um momento.
Houve também a Campanha do Ouro, promovida pela Associação Comercial de São Paulo, que pedia ao povo doações de ouro e metais valiosos para ajudar nos esforços de guerra. A maioria das pessoas contribuiu com alianças de casamento, na falta de outros objetos valiosos.
Ao final da revolução, a associação doou o restante do metal para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que construiu o edifício Ouro para o Bem de São Paulo.
Este capítulo é quase totalmente ignorado entre os brasileiros e os próprios paulistas. O historiador tem uma hipótese. “O ensino de história é mal aplicado, alguns temas ficam de fora da grade curricular, a revolução é um deles. Não acredito que tenha sido proposital, mas com o tempo, quem assumia as áreas de educação não havia vivido aquela época ou talvez não aprenderam sobre o tema. Talvez seja questão ideológica. Não é de hoje que essa coisa de destruir ou apagar a Revolução de 32 acontece”, argumenta.
Por fim, Gutenberg fala sobre a importância dos grupos de redes sociais que abordam este combate que originou livros, nomes de ruas e monumentos na RMVale e no estado.
“A internet favoreceu que as pessoas se informem sobre tudo. Se o governo não ensina a própria história, a internet reúne pessoas que gostam de fatos históricos, cria grupos que ajudam a manter a memória desses feitos. Muito tem sido restaurado e resgatado graças a isso”, conclui.
O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos O que foi a Revolução de 1932, que co...maisO que foi a Revolução de 1932, que completa 89 anos? menos
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- Foto: Filipe C. Oliveira/Arquivo Pessoal
- Foto: Filipe C. Oliveira/Arquivo Pessoal
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