Resolvi buscar na lista de aplicativos voltados para saúde mental. E, fiquei impressionada pela quantidade de aplicativos existentes voltados para depressão e ansiedade. Há uma tendência de digitalização dos serviços, em que se você não está online, você não existe - o mesmo parece acontecer com os serviços de saúde mental.
Porém, me vi pensando “saúde mental = depressão e ansiedade”? Devemos tomar o cuidado com os dois substantivos saúde e mental. E, para nenhum dos dois termos acredito que depressão e ansiedade sejam definições apropriadas - primeiro por não serem saúde e sim adoecimentos e segundo por ser extremamente limitante e estereotipado, ainda enraizado pelo passado associado a loucuras e manicômios.
Aplaudo iniciativas em saúde que possam ser mais acessíveis à população de forma geral, mas isso tem que ser acompanhado com avisos de atenção sobre as limitações e necessidade de acompanhamento profissional humano a depender do caso. Digo isso por ter lido alguns comentários/avaliações dos aplicativos, em que muitos criticam a sua efetividade limitada, como se um aplicativo pudesse dar conta de nossa complexidade humana por completo.
Os dados, estatísticas, gráficos gerados em aplicativos são só isso: dados. O que você faz a partir delas é que é importante. Aplicativos podem fazer um tracking do seu humor ao longo do tempo - acho que isso pode ser uma coisa muito bacana de se perceber na visão macro e ter insights mais assertivos de “nossa, ando estressado” baseado em dados do tipo picos de alteração de humor em 4 dias da última semana. Insights são ótimos se eles promovem alguma mudança de percepção, pensamento, sentimento e/ou comportamento. Caso contrário, ele será só um dado a mais no enxame de informações que temos diariamente sobre tudo o que acontece em nosso mundo externo e interno. E, corremos o risco de usar mais dados para “nos definirmos”, ou até “desculpas” que justificam certos comportamentos ou atitudes.
Afinal, o que esses dados estão me mostrando, me dizendo? O que ter alterações de humor em 4 dias da última semana quer dizer? Fico surpreso com esse dado ou já me acostumei com isso e digo “ok”? A informação objetiva só tem valor quando elas viram informações subjetivas, capazes de me mobilizar. Mas, quanto de saúde mental isso “gera” se de alguma forma não estou conseguindo mudar, me mexer, me cuidar? A proposta de saúde, de integração e bem-estar físico, mental e social fica em segundo plano se não consigo compreender os meus próprios dados. Os aprendizados e transformações são processos ATIVOS. Apenas consumi-los como tenho visto a grande maioria fazer, não representa mudanças significativas.
Então, a sugestão talvez seja, antes de terceirizar a saúde para os aplicativos e dados, que tal começar com perguntas como: para que me cuidar? Como é me sentir “cuidado”? Com eu sei que estou sendo saudável comigo e com outros? Entre a ansiedade e depressão existem inúmeras outra “saúde mentais” que precisamos olhar. Não existe atalho para se envolver com a própria saúde, tampouco soluções imediatas. É preciso aprender que cuidar de si e dos outros é um processo contínuo, ativo e sem fórmula ou pílula mágica.
Notas da neurociência: Autoajuda: ler um e-book, ouvir um podcast, fazer workshops gratuitos de Instagram, sem dúvida fornecem informações interessantes para ajudar na jornada da “saúde mental”. No entanto, somente ter ciência do conteúdo, não é nem metade do caminho a ser percorrido. Não se mata fome lendo o cardápio. É preciso haver mobilização interna para mudar o quadro que estamos. É preciso compreensão, ação e repetição. O start é interno, as mobilizações são internas. As mudanças mais significativas no cérebro acontecem com estímulos de dentro para fora e não de fora para dentro.
Escrito por: Caroline Yu e Eugênia Mattos, fundadoras da Envolve+
projetoenvolvemais@gmail.com e Instagram: @envolvemais
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Por Redação, em Saúde Mental
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