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Felipe Cury e o Feriado de 9 de Julho

Leia a coluna Bulas Semanais

Colunista Felipe Cury (Reprodução)

Escrito por Felipe Cury

12 JUL 2024 - 16H27

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O PENSAMENTO: - “Os que negam liberdade aos outros não merecem liberdade! “– Abraham Lincoln

O FATO: A Revolução era um problema político, na época. Enquanto São Paulo buscava desenfreadamente o desenvolvimento industrial, Minas Gerais respirava política 24 horas por dia. Nunca houve ódio entre os brasileiros de Minas e os de São Paulo. Foi tramado, nas minas gerais, um movimento liderado por Antônio Carlos que se preparava, na surdina, aquilo que esperavam, que seria a derrota de Getúlio nas urnas. Isso não aconteceu, mas a população inteira, com exceção dos conservadores, ansiava a libertação do jugo ditatorial. Os conservadores defendiam a necessidade de uma ditadura “temporária”, ou “provisória”. Só que iria prolongar-se por quinze anos.

A Revolução Constitucionalista não alcançou o sucesso militar desejado, porém, foi influente em várias outras áreas, evidenciando a necessidade de uma Constituição que balanceasse o poder entre as federações e o governo central.

Quando falamos de feriados regionais no Brasil, o 9 de Julho em São Paulo destaca-se no calendário. As praias ficam lotadas e os tele-jornais vazios. Este ano, tivemos uma terça feira frígida e chuvosa, e as barracas da areia forma substituídas pelos aconchegantes edredons. Mas o nosso feriado paulista não apenas marca um dia de folga para muitos, mas também rememora um dos episódios mais significantes na história moderna do estado: a Revolução Constitucionalista de 1932.

Essa data foi proclamada feriado por meio da Lei Estadual n.º 9.497, sancionada por Mário Covas em 1997, e reforça o desejo paulista por justiça e democracia que fez eclosão naquele ano contra o controle federal imposto por Getúlio Vargas após o Golpe de 1930. Esta não é apenas uma folga no calendário, mas uma jornada de memória e respeito.

Mencionei anteriormente que A POLÍTICA predominava em MG, notadamente em BH, mas sem nenhuma conotação pejorativa. Grandes vultos do cenário político-administrativo vieram daquele manancial: Washington Luiz, Cristiano Machado, Olegário Maciel, Melo Viana, Oswaldo Aranha, José Américo, Pedro Ernesto, Epitácio Pessoa, Arthur Bernardes, Borges de Medeiros, Evaristo da Veiga, Gustavo Capanema, Gabriel Passos, Abigar Renaut, Wenceslau Brás, Bias Fortes, Afonso Pena Jr, Clóvis Salgado, Otacílio Negrão de Lima, Benedito Valadares, Eurico Gaspar Dutra, (mato grossense de Cuibá), JK e outros, muitos outros.

Grande destaque, não posso deixar de dar, ao Hospital de Campanha na Boca doTúnel, em minha cidade vizinha Passa Quatro, sob a competente direção de um jovem cirurgião – salvador de vidas: Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, na época Capitão Médico da Força Pública de MG. Com a chegada de um comboio com grandes especialistas e equipamentos cirúrgicos mais atualizados, cogitou-se de transferir o Dr. Juscelino para BH, tirando-o do “hospitalzinho” da Irmã Maria, mas o General Barcelos foi imperativo: ”O doutor Kubitschek é indispensável aqui.”

Do outro lado, paulistas notáveis e patriotas iam ficando inconformados, porque São Paulo estava sob ocupação militar. Diziam que a Revolução havia sido feita “contra”, o grande Estado. E com a vitória do movimento, que lhe arrebatara a presidência da República, na pessoa de Júlio Prestes, candidato eleito, São Paulo precisava ser humilhado. A discriminação marginava realmente a poderosa unidade da federação. Para Minas, Rio Grande e Paraíba, tudo, para São Paulo, nada. Esta orientação desprimorosa aos brios paulistas acirraria ódio. O Governo Central desafiava São Paulo.

A rigor, a rigor mesmo, não era uma guerra entre os irmãos de Minas Gerais e de São Paulo. Na verdade, era o ego inflado de Vargas que só via o poder, ainda que ditatorial, contra o desejo de São Paulo pela DEMOCRACIA. Era o poderoso Governo Federal contra o povo.

O Grande Estado começou a preparar-se para a reação

Muito atuante, a MAÇONARIA da época, uma instituição milenar e consciente dos princípios que a norteara LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE foi altamente participativa. A Revolução passou a contar com expoentes das classes empresariais, populares, estudantis, além do Governo Estadual e sua Força Pública coesa e unida.

Próceres como Francisco Rangel Pestana, Ibraim Nobre, Júlio Mesquita – fundador e presidente de O ESTADO DE SÃO PAULO, Júlio de Mesquita Filho – seu sucessor -, Júlio Prestes – Governador de São Paulo, eleito Presidente do Brasil, mas substituído pelo GOLPE MILITAR, Pedro de Toledo. Washington Luiz, também destituído pelo Golpe Militar.

Entidades da mais alta respeitabilidade uniram-se em torno desse ideal: a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, seus adeptos e alunos formaram o Batalhão Universitário; as entidades civis ACM-Associação Cristã dos Moços, os Rotarys, os Lyons, a Assoc. Comercial de SP, se uniram para dar sustentabilidade ao Movimento. A FIESP incumbiu suas associadas em um Esforço de Guerra desencadearam a produção de material bélico. A POLITÉCNICA emprestou tecnologia, professores, engenheiros e estagiários para a produção de artefatos bélicos. Jovens foram às ruas expondo suas vidas e servindo de patriótico exemplo, quando surgiu o imorredouro MMDC (acrônimo derivado dos nomes de Martins, Miragaia (era joseense), Drausio e Camargo, mártires da causa constitucionalista).

Consta que o primeiro tiro foi disparado em Cruzeiro, do lado de cá do túnel. Sou cidadão cruzeirense, por outorga da Câmara cruzeirense e lamento muito isso. Já Soledade não se envolveu no conflito; suas Forças Armadas (2 soldados) se abstiveram da luta, não quiseram se imiscuir.

Não posso me alongar mais então antecipo minha conclusão apaixonada: REVOLUÇÃO é uma GUERRA onde ninguém ganha. Todos perdem. Os prejuízos são irreparáveis, sem falar das vidas humanas que não nos pertencem... mas são de Deus.

Nessa Revolução não conhecemos os vencedores, porque nada comemoram. Os vencidos anualmente festejam a LIBERDADE e a CONSTITUIÇÃO.

Sou um mineiro Paulista de Soledade de Minas e, sem ser orgulhoso, orgulho- me de ser um paulista mineiro apaixonado de São José dos Campos.

COLUNISTA

Felipe Cury é mineiro de Soledade, nascido em Três Corações. Vive em São José dos Campos há 66 anos. Completou em 17 de abril, 86 anos de feliz idade.

Formado em Ciências Jurídicas e Administrativas, pela Fundação Joseense de Ensino, foi Professor de Língua Portuguesa e Comunicação, na Escola Técnica “Olavo Bilac”.

Foi presidente da ACI - Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos, por 8 anos, além de ocupar outros importantes cargos em diversas instituições do município.


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