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Jack White fala sobre Raconteurs, rock’n’roll e Amazônia

De Nashville, onde vive, Jack White respondeu às seguintes questões sobre o Raconteurs, rocknroll e Amazônia.

A turnê do Raconteurs já realizou diversos shows nos EUA, o que você tira da reação dos fãs?

Tem sido incrível. Onde quer que a gente vá, são muitos adolescentes e jovens adultos que realmente amam o rocknroll. Voltando, 10 anos depois, pensamos que nossos fãs estariam na meia-idade a essa altura, mas não, há muitos jovens. É demais ver uma nova geração entrando nessa onda.

O que é fazer turnês, com mais de 20 anos de trabalho?

Existe uma tentação de cair em tolices, como se esconder no hotel, sair para comer 5 vezes por dia, ir atrás de álcool e drogas, então é uma tentativa de evitar cair nessas armadilhas, se manter espontâneo e criativo. Lembrar que você está ali para criar, e não para satisfazer os desejos de passar o tempo. É uma grande oportunidade para ser criativo, no palco, e dividir com as pessoas.

Os críticos têm comentado como vocês entram de maneira leve na política, mas a banda nunca foi engajada. Hoje você tem necessidade de falar sobre isso?

Um pouco. Eu não quero falar o nome de Donald Trump em voz alta, porque, de alguma maneira, faz ele soar mais poderoso. O ego dele gosta, mesmo de atenção negativa. Ele vai desaparecer, e nós olharemos envergonhados para este momento. É preciso mirar em uma atemporalidade para lidar com música. Às vezes me sinto forte o suficiente para mencionar, aí falo de imigração, numa canção como Icky Thump, do White Stripes, de 12 anos atrás. Acaba sendo algo que as pessoas ainda comentam hoje em dia, então é curioso. De vez em quando, eu farei isso.

Falando sobre Somedays, música bastante pessoal do Brendan (parceiro de banda), você disse que tenta não escrever sobre momentos ruins para não ficar revivendo-os no futuro. Há músicas que você evita por isso?

Eu tento não escrever dessa forma. Nas músicas que escrevi ao longo do tempo tento, na maior parte, criar personagens imaginários. De vez em quando há uma inspiração de algo na vida real, e boas coisas podem vir dessa empreitada, mas eu não quero ser tão específico sobre isso, num estilo Taylor Swift. Todo mundo sabe sobre o que é, por que você está dizendo aquelas coisas. E 10 anos depois, como é que você vai cantar aquelas palavras? Não faz mais sentido. Eu tento evitar esse tipo de coisa.

Pode ser uma grande bagunça.

Claro. As pessoas não entendem que quando saem com um compositor podem ser uma influência e terão que lidar com isso para o resto da sua vida (risos), sempre que tocar aquela música.

Você também já disse que o sentimento com o álbum novo é parecido com o do White Stripes no começo, ou seja: será que as pessoas ainda vão se importar com o rock este ano?

Sempre fico surpreso com o quanto o rock continua se movimentando, se mantendo interessante para as pessoas. Muitas vezes, desde que começou nos anos 1950, ele foi declarado morto, mas ele ainda se move. Os instrumentos evoluem: baterias, guitarras, piano. Essas são coisas muito básicas com as quais as pessoas se importam muito, e elas provavelmente nunca irão embora. Estão muito enraizadas. Então, algumas vezes, as pessoas vão romper, fazer músicas com sintetizador, e então voltar para os instrumentos acústicos. São fases. Numa banda, gosto de começar do zero a cada projeto, sair, dar entrevistas, falar com pessoas, tocar em clubes pequenos antes do lançamento. É demais. Sinto que estou começando do zero a cada projeto, seja com o Dead Weather, com o White Stripes, com o meu projeto solo. É algo muito inspirador deixar isso acontecer.

As pessoas perguntam sobre o fundo nostálgico da sua música desde o começo da sua carreira.

Quando as pessoas ouvem algo que elas não gostam, a maioria apenas ignora. Quando gostam, querem descobrir por que elas gostam daquilo. Ah, é porque soa como AC/DC, ou como The Hollies, ou como Devo… há sempre uma tentativa de encontrar uma comparação para explicar o gosto. É OK. Eu nunca sentei e tentei emular alguma coisa. Nunca quis fazer nenhuma banda minha soar como o The Kinks. Nunca fui assim. Escrevo canções e algumas delas soam como coisas mais antigas, seja pelas ideias, pelos instrumentos, pela atitude, mas são acidentes felizes. Eu não ligo quando me dizem que algo que fiz soa como uma canção do Deep Purple. Se alguém consegue tirar algo daquilo, super. Fico feliz.

Como você vê as pessoas lidando com esse tema hoje em dia?

A música nos últimos 10 anos, por causa da internet, tem sido um lugar muito frágil. É um ambiente assustado com a ideia do que vai ser daqui a 3 meses, daqui a um ano. O que vai acontecer com a indústria. Pensei nisso com a Third Man Records. Não importa o que aconteça com a indústria da música, porque esse vai ser o meu mundo. Agora, temos a nossa própria fábrica de discos. Basicamente, podemos gravar as músicas, fazer o disco físico e ninguém pode nos parar. Esse é um lugar bom. Nem todo mundo tem o luxo de criar um mundinho próprio, então o que as outras gravadoras fazem é ficar bastante cautelosas. Obviamente, agora a indústria da música é streaming e vinil, esses são os dois meios que vão durar na próxima década. O jeito que as pessoas digerem a música agora leva para algo como Old Town Road, do Lil Nas X, ser atraente e se tornar um hit gigantesco. O que se pode aprender disso? Foi uma casualidade ou foi algo que as pessoas podem escutar e investir nesse caminho?

Você tem uma ligação pessoal com a Amazônia, ao ter se casado lá e feito um show histórico em Manaus. Você tem lido sobre os incêndios?

Eu leio, sim. Parece muito triste. Não sei os detalhes, mas sei que todo ano existem queimadas lá, às vezes até natural, começam com raios e tal. É triste ouvir que as pessoas estão provavelmente explorando aquilo. Mas, ao mesmo tempo, quem somos nós para dizer ao Brasil o que fazer? É o seu país, o seu meio ambiente, eu confio em vocês para dizer a nós o que fazer, o que podemos fazer. Eu espero que vocês encontrem uma boa solução.

O que você lembra daquele show de Manaus?

Foi maravilhoso. Falaram para a gente que havia uma multidão do lado de fora assistindo, então fomos lá para fora. Queria que tivéssemos um microfone para tocar um pouco mais alto, tivemos que mandar as pessoas pararem de falar (risos). Mas foi um dos momentos mais maravilhosos da minha vida.


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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