Por Meon Em Opinião

“Ideologia” ou igualdade de gênero nas escolas?

Recentemente, em diversas cidades, foi debatido o projeto de lei Escola Sem Partido. Ele é inconstitucional ao propor uma alteração na educação: Quer que somente os pais possam ensinar sexualidade e gênero. Assim, o projeto proibiria professores, representantes do Estado, e a comunidade de garantirem esse tipo de educação, conforme já prevê a lei.

O controle sobre os professores seria feito por meio de um cartaz que determinaria o que poderia ou não ser ensinado nas aulas. Uma forma de censura sem qualquer sentido pedagógico. Em um dos tópicos desse cartaz constaria a proibição do professor de tratar do debate sobre o gênero na sala de aula.

Precisamos valorizar os professores, que já seguem diretrizes educacionais, e defender a pluralidade de ideias. Por isso, o projeto não foi aprovado em várias cidades. E, nas cidades em que foi aprovado pelos vereadores, o projeto foi barrado pela Justiça.

É preciso defender a educação conforme garante a Constituição Federal. Ao contrário do que dizem os defensores do Escola Sem Partido, os professores ajudam na proteção de crianças e adolescentes da violência, da pedofilia, da gravidez precoce e de infecções ou doenças como o HIV. Afinal, não somente o Estado, mas também os pais podem errar.

Há uma confusão mal intencionada sobre o debate de sexualidade e gênero nas escolas feita por grupos preconceituosos que usam o termo “ideologia de gênero”. Afirmam que o principal problema na educação é uma doutrinação por parte de professores de esquerda que promovem a erotização, a sexualização e a pedofilia.

O principal problema na educação não é esse. Quem quer de fato defender a educação protesta contra a falta de professores, a falta de uniforme escolar, a falta de merenda e a superlotação das escolas. E defende o fim da violência dentro do ambiente escolar.

Mas, afinal, o que é gênero? O debate sobre gênero surge a partir do estudo sobre a mulher. Nos anos 80, pesquisadores, de diferentes vertentes ideológicas, passam a desnaturalizar a diferença entre homens e mulheres. O estudo de gênero têm desmistificado esta crença que utiliza as diferenças biológicas para determinar a construção social da feminilidade ou da masculinidade.

A primeira eleição no Brasil aconteceu em 1532. No entanto, somente em 1932, as mulheres puderam votar. E por quê? O mito da “natureza feminina” insiste na crença de que homens e mulheres têm comportamentos diferentes, assumem lugares sociais diferentes, assumem tarefas diferentes porque são “naturalmente diferentes”.

Esse discurso serve somente ao machismo, na medida em que justifica com o argumento da natureza, a violência sofrida pelas mulheres. Logo, não é porque uma mulher nasceu com o sexo biológico feminino que ela é “naturalmente” inferior ao homem ou deve assumir tarefas pré-determinadas na sociedade.

E quanto às pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros)? O fato dessas pessoas serem consideradas historicamente como doentes fez com que elas fossem colocadas à margem de todos os direitos. A maior violência ocorre dentro da família onde, por exemplo, pais utilizam da violência contra seus filhos por conta da orientação sexual ou identidade de gênero deles.

A compreensão da “supremacia masculina”, uma construção de comportamentos e atitudes do homem justificadas a partir da natureza, somada à consideração de que as pessoas LGBT são doentes, faz com que a visibilidade e a conquista de direitos iguais por essas pessoas seja considerada pelos preconceituosos uma ameaça.

O projeto Escola Sem Partido se utiliza de um falso discurso democrático para, na verdade, impedir o fim do ciclo de violência e a conquista de direitos iguais entre homens e mulheres ou entre pessoas que são ou não LGBT. Ele quer impedir que professores ensinem que nossas crianças e adolescentes mulheres não são inferiores aos homens. E que nossas crianças e adolescentes LGBT não são doentes.

Ideologia de gênero não existe. O gênero existe sim. E é, por isso, que precisamos defender a igualdade de gênero, seja ele qual for, nas escolas e em toda a nossa sociedade. Pelo fim da violência e pela vida de milhares de pessoas que morrem todos os dias vítimas do machismo e do preconceito.

Nesse sentido, o projeto de lei Escola Sem Partido precisa ser arquivado. A frente parlamentar de vereadores contra a “ideologia de gênero”, recentemente criada em São José dos Campos, serve somente à violência e a uma sociedade desigual. É essa a sociedade que esses vereadores, que vivem de privilégios por meio do dinheiro da população, querem. Você concorda com isso?

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Meon, em Opinião

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.