Por Meon Em Opinião

Por uma História Cultural do Vale do Paraíba

mulher lendo

Hoje em dia o tema “cultura” é amplamente abordado em, por exemplo, Antropologia Cultural, Sociologia, História, Geografia, Linguística, Crítica Literária, entre outras. Entretanto, há grande dificuldade em definir o que é cultura, devido a sua abrangência e complexidade, e também pela ampliação que esse conceito recebeu a partir da última metade do século XX.

Estamos imersos numa rede de representações culturais e convivemos diariamente com os sentidos atribuídos à cultura pelo chamado senso comum. Entre eles podemos destacar: padrão ideal de manifestação humana, “civilidade”, o que diferencia o homem do animal, o que define o ser humano, algo desejável no topo do “processo civilizatório”, algo que pode ser obtido, comprado ou adquirido (ligado à idéia de educação formal).

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A antropologia tem contribuído para rever essas visões. Assim, hoje podemos dizer que cultura pode ser: um estilo de vida, um conjunto de diversidade de formas simbólicas, uma  forma de manifestação local e singular de uma história. Diz respeito ao compreender e respeitar o distante e o diferente, expressões mutuamente traduzíveis e irredutíveis entre si, várias possibilidades de ser humano, um estado. Deve ser vista como substantivo, isto é, algo que todos têm e que compartilham entre si, modos de ser e de pertencer a uma dada coletividade, modo de ordenar a experiência humana por meios simbólicos.

É preciso estudar a cultura que nos identifica, nos caracteriza e nos representa

No campo da História há distinção entre História da Cultura e História Cultural. A História da Cultura dedica-se a estudar os objetos culturais, ou seja, as produções realizadas pelo ser humano, tais como livros, filmes, obras de arte, objetos do cotidiano, entre outros. Já, a História Cultural é mais ampla e propõe reflexões sobre os processos e contextos de produção desses objetos culturais, ou seja, o foco é nas chamadas práticas culturais. Como exemplo, podemos citar o livro. A História da Cultura estuda o livro, como vimos, e a História Cultural estuda as práticas de leitura. Assim, a História Cultural não propõe novos objetos, mas novas formas de olhar os objetos.

Complexo? Nem tanto.

Aula de História? Respondo com outra questão: e por que não? Afinal devemos nos esforçar para nos entendermos, e para tanto é necessário entender a cultura, pois somos mediados e estamos imersos por objetos e práticas culturais o tempo todo.

Mas o que isso tem a ver com os estudos e percepções sobre a cultura no vale do Paraíba? Do meu ponto de vista, tem uma relação muito estreita. A partir dessa proposta teórica, será possível entender as produções artísticas, culturais e sociais dos valeparaibanos somente se estudarmos a chamada cultura caipira, na qual estamos imersos. Assim, em vez de estudar apenas esse ou aquele artista, esse ou aquele quadro ou obra literária, é preciso estudar a cultura que nos identifica, nos caracteriza e nos representa.

E, por fim, alerto que devemos lembrar que as práticas são enraizadas em sujeitos históricos, que nada mais são do que os homens que promovem suas ações ao longo do tempo. Em outros termos: todos nós.

Rachel Abdala

Rachel Abdala é historiadora e colunista do Meon

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