Por Meon Em Opinião

Coluna da Nikoluk: Lugar de mulher é... onde ela quiser, inclusive na política!

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Em meio a um Congresso majoritariamente masculino, Carlota Pereira de Queirós
foi  a primeira deputada federal da América Latina, em 1934

Foto: Arquivo/Congresso em Foco 

Outro dia, durante um almoço em família, por algum motivo que não recordo começamos a conversar sobre as dificuldades e desafios da mulher moderna. Alguém falou sobre as feministas, e eu acabei dizendo que não me achava feminista porque feministas exageravam na forma como defendiam as ideias, gritando, colocando peitos para fora, fazendo xixi no chão, xingando e cuspindo em pessoas, colocando os homens como inimigos e adversários das mulheres.

 Expliquei que eu nunca gostei desse tipo de “argumentação apelativa” ou em “vencer pelo grito”, sempre trabalhei privilegiando o diálogo e buscando mudar as coisas com argumentos positivos e técnicos, de forma inteligente, e não por força ou pelo exagero... enfim, estava me achando o máximo em não ser feminista e... levei a maior bronca!

Minhas filhas, Carolina e Catarina, se entreolharam e me olharam quase com dó (fiquei arrasada) e me falaram que eu não sabia o que é feminismo. Um espanto! E tive a humildade de aprender e mudar minha forma de pensar, ao quase meio centenário de vida!

O feminismo é um substantivo (pasmem!) masculino que no dicionário significa “doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade”.

Não se pretende discorrer aqui sobre o feminismo, mas pesquisando mais a fundo sobre o movimento feminista, constata-se que o feminismo é, em resumo, o esforço das mulheres pela busca do respeito e da igualdade, para ter direitos iguais em oportunidades e condições de trabalho, para não ser discriminada apenas pela condição do sexo.

Ser feminista não tem nada a ver com as “feministas radicais” ou “feminazis”... essas últimas colocam “mulheres contra os homens” como adversários, quase “inimigos” e tendem a fazer as coisas super exageradas, daquele jeito radical que eu, pessoalmente, abomino.

É claro que o feminismo não surgiu à toa. Foi um desdobramento natural para fazer frente à discriminação e à desigualdade. Desde os primórdios da história do Brasil, a mulher precisou lutar contra uma cultura quase “patriarcal”, de forte desigualdade, que acreditava a mulher como uma propriedade, destinando a ela papéis restritos (mãe, esposa, dona de casa, etc.) e, quando muito, secundários em outras atividades, independentemente de sua vocação, vontade ou capacidade.

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Em muitos  países arábes a mulher é ainda vista como uma propriedadeo

Reprodução

E essa condição só foi mudando em razão de muito esforço, sofrimento e luta de mulheres – e também de homens corajosos e liberais – no sentido de buscar maior igualdade e menos discriminação não só das mulheres, mas de todas as pessoas.

O feminismo, no fundo, luta contra a discriminação em razão do sexo (mulher), mas acaba por provocar uma forte crítica, estimulando iniciativas e ações para reduzir todas as formas de discriminação em razão da cor da pele, raça, religião, etc.

Por essas razoes, humildemente, mudei minha forma de pensar. Como sempre lutei pelo respeito e igualdade entre homens e mulheres, sou então uma feminista, com muito orgulho!

A busca pela igualdade de direitos e do respeito entre as pessoas é, provavelmente, um dos maiores desafios da sociedade moderna. Nos dias de hoje, ainda há países que tratam mulheres como objetos, seres sem quaisquer direitos e até, em alguns lugares, com menos valor do que animais. Por outro lado, o Brasil está entre os países que tem evoluído na legislação relacionada à defesa e igualdade de direitos, como por exemplo, nossa Constituição Federal de 1988, a Lei de combate ao racismo (Lei 7.716/89) e a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06).

Mas infelizmente, ainda há muito a se fazer, e será preciso ainda muito esforço para promover uma mudança cultural efetiva, relacionada ao respeito e à igualdade.

Com relação à participação das mulheres na política, vale recordar que até a Proclamação da República (1889), as mulheres não podiam votar, mas também não podiam votar analfabetos, menores de 21 anos, indígenas, soldados, mendigos e integrantes do clero.

Somente a partir de 1932, após muito esforço e lutas, as mulheres passaram a poder votar, autorizadas pelo então Presidente da República Getúlio Dornelles Vargas. Só que esse voto só foi exercido pela primeira vez nas eleições de 1935. E naquela época, ainda não havia qualquer legislação que incentivasse a efetiva participação das mulheres na política brasileira.

Ocorre que, ainda antes das mulheres poderem votar, uma mulher foi eleita Prefeita em 1928. Luíza Alzira Soriano Teixeira estreou como a primeira mulher a ocupar uma prefeitura no Brasil. Após ficar viúva aos 22 anos de idade e sendo mãe de três filhas, Alzira era considerada “pulso firme” na condução da fazenda onde morava, e acabou sendo incentivada a candidatar-se na política por uma líder feminista brasileira, Bertha Lutz, que vislumbrou em Alzira o potencial necessário para esse desafio. Alzira concorreu para a prefeitura de Lages (cidade do Rio Grande do Norte) pelo Partido Republicano e venceu com 60% dos votos, entrando para a história em 1928 como a primeira mulher eleita Prefeita no Brasil e na América Latina.

O que realmente chama a atenção é que Alzira Soriano foi eleita em uma época em que as mulheres ainda nem podiam votar, ou seja, foi a primeira mulher brasileira eleita para a política brasileira que foi legitimada apenas e exclusivamente por... homens! E, curiosamente, em um Estado brasileiro que tradicionalmente, sempre foi considerado de cultura “machista”.

Na história, é importante destacar também alguém muito especial: Carlota Pereira de Queiroz, uma mulher extraordinária, nascida na cidade de São Paulo, médica formada em 1926 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, também escritora e pedagoga que, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, organizou e liderou um grupo de 700 mulheres para garantir a assistência aos feridos, lutando pelos ideais democráticos defendidos por São Paulo e que em 1934, aos 42 anos de idade, foi eleita a primeira Deputada Federal do Brasil, destacando-se nos trabalhos do Congresso Nacional.

Ocorre que nos dias de hoje, pleno século XXI, sabemos que a representatividade feminina na política ainda está muito aquém de uma situação de igualdade ou, ao menos, de proporcionalidade ou equilíbrio.

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Segundo TSE, as mulheres representam 52% dos eleitores que foram às urnas em 2018

Arquivo/Divulgação

Nas eleições de outubro de 2018, por exemplo, cerca de 52% do eleitorado foi constituído por mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, porém o resultado da eleição revela que o número de mulheres candidatas tem se mostrado bastante desproporcional, em relação aos homens, não chegando a 15% do total de eleitos. Será que a mulher não vota em mulher? Será que a cultura “machista” está tão assim impregnada na nossa população, que nem mesmo as mulheres acreditam no potencial de outras mulheres? Vale um estudo nesse sentido!

Talvez, a mulher acaba se candidatando menos à política por diversos fatores: precisa dedicar-se muito mais à sua profissão para ser reconhecida no mercado de trabalho; a ela recai a responsabilidade pelo cuidado da casa ou dos filhos, gerando duas ou mais jornadas de trabalho; é normalmente mais dedicada ao trabalho social ou voluntário, ou cuida de terceiros; há aquela chefe de família, que teve de assumir toda responsabilidade pelo provimento e gestão do lar; há falta de políticas públicas e políticas partidárias (inclusive de cotas) que efetivamente  favoreçam a inclusão feminina em funções de liderança ou comando; falta apoio e recursos; e no Brasil, falta uma cultura de igualdade de gênero, o que acaba desestimulando a mulher a arriscar-se para buscar a liderança.

O Brasil está muito pior, em relação a outros países, no requisito representatividade de mulheres no parlamento: o número de mulheres brasileiras na política é baixo, conforme pode-se constatar em uma rápida pesquisa. Dentro de um ranking de 190 países, feito pela União Interparlamentar (sigla IPU, entidade que abriga representantes de vários governos), o Brasil está na 156ª colocação entre os piores ranqueados, atrás Ruanda, Cuba e Bolívia, países onde as mulheres são, inclusive, maioria nos respectivos parlamentos.

Isso é péssimo para Brasil.

Nos países onde há maioria ou, no mínimo, equilíbrio de mulheres no parlamento, houve importantes conquistas, como leis melhores, sobre direitos trabalhistas para grávidas, prevenção e saúde sexual, combate à violência contra a mulher. Segundo pesquisadores do tema, quem faz política pública para mulheres, em geral, são mulheres! E certamente, mais mulheres em funções legislativas e executivas de Estado poderão colaborar muito para a redução das desigualdades e melhorias de políticas sociais equânimes para todos.

Afinal, porque é bom aumentar a representatividade da mulher na política?

Porque equilibrar a participação política entre homens e mulheres também equilibra o “microcosmos” político, o que gera uma representação também equilibrada em relação à realidade da população do nosso país, que é quase 50% entre homens e mulheres.

Porque as mulheres que conseguem alcançar posições de poder, acabam inspirando e encorajando outras mulheres a acreditarem em si mesmas, e no potencial de poderem também, um dia, galgar postos ou funções que sonham alcançar. Na verdade, o exemplo de uma mulher vitoriosa estimula e fortalece outras mulheres a acreditarem mais em si mesmas!

Porque a mulher não é melhor nem pior que o homem, simplesmente é diferente, não só fisiologicamente, mas também na percepção em relação às coisas. A mulher possui uma sensibilidade ou “olhar” diferente para as questões da sociedade e da vida, porque enfrenta, no dia a dia, desafios muitas vezes diferentes daqueles enfrentados pelos homens: gera filhos, amamenta, menstrua, enfrenta oscilações hormonais, enfim, vive as dificuldades de ser mulher em um mundo tão competitivo e onde a concorrência encontra-se cada vez mais exacerbada.

Neste momento de nossa história, em que foi eleito democraticamente um governo mais alinhado às ideologias de direita, fica o grande desafio de provar-se equilibrado, justo e realmente restaurador dos direitos e da igualdade entre todas as pessoas, sejam homens ou mulheres.

É grande a oportunidade para este novo governo trabalhar forte, gerando políticas públicas mais equânimes e inclusivas, capazes de gerar oportunidades reais para todos e promover o equilíbrio social necessário, para que possamos juntos, como brasileiros (independente de sexo, raça, cor, religião ou quaisquer outras diferenças), construir um País muito mais seguro, justo e melhor para todos!

E para que isso seja possível, é indispensável que as mulheres realmente possam ter oportunidade de acesso aos cargos dos Poderes constituídos (em especial, do Executivo e Legislativo) e efetivamente, assumam funções de liderança, ombreando lado a lado com os homens para a construção do Brasil que sonhamos!

Mulher, acredite mais em você, acredite mais nas mulheres!  Juntas, com humildade, sensibilidade e equilíbrio, podemos mudar o mundo para muito melhor! Acredite!

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Referências:

Fantástico.. Mulheres são vistas como propriedades dos homens no Líbano. Rede Globo, G1, edição de 29 de junho de 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/06/mulheres-sao-vistas-como-propriedades-dos-homens-no-libano.html>. Acesso em: 07 de fevereiro de 2019. 
Calogeras, Luciana. Esses são os 12 países em que mulheres são tratadas piores do que animais. Mistérios do Mundo. Disponível em: <https://misteriosdomundo.org/esses-sao-os-12-paises-em-que-as-mulheres-sao-tratadas-piores-do-que-animais/>. Acesso em: 07 de fevereiro de 2019. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 08 de fevereiro de 2019. 
Tribunal Superior Eleitoral. Semana da mulher: primeira prefeita eleita no Brasil foi a potiguar Alzira Soriano. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Marco/semana-da-mulher-primeira-prefeita-eleita-no-brasil-foi-a-potiguar-alzira-solano>. Acesso em: 28 de janeiro de 2019. 
Wikipedia. Carlota Pereira de Queirós. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlota_Pereira_de_Queir %C3%B3s>. Acesso em: 31 de janeiro de 2019. 
Tribunal Superior Eleitoral. Mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Marco/mulheres-representam-52-do-eleitorado-brasileiro>. Acesso em: 08 de fevereiro de 2019. 
Montesanti, Beatriz. UOL. Congresso é lugar de mulher: baixa presença feminina no parlamento poe Brasil no rodapé de ranking mundial; Ruanda e Cuba lideram a lista. Disponível em: <https://www.uol/eleicoes/especiais/mulheres-parlamento-brasil-congresso-deputados-mundo-representatividade.htm#congresso-e-lugar-de-mulher>. Acesso em: 08 de fevereiro de 2019.

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