Por Mara Cirino Em RMVale

Projeto Garoupas ao Mar prevê soltura de 20 mil alevinos na costa do Litoral Norte

Foram incubados cerca de 240 mil ovos com a projeção de conseguir essa quantidade

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Projeto Garoupas ao Mar 

Arquivo/Mara Cirino 

A Associação Ambientalista Terraviva (Atevi), que desde 2006 desenvolve ações para a conservação dos oceanos e desenvolvimento social das comunidades costeiras no Brasil, está com um projeto de promover o repovoamento de peixes marinhos com a soltura de 20 mil garoupas verdadeiras (Epinephelus marginatus - espécie ameaçada de extinção) na chamada costa Maembipe da Área de Preservação Ambiental Marinha do Litoral Norte (APA Marinha) - mar aberto, próximo à região oeste de Ilhabela.

O projeto, embora comum em água doce e rios, é inédito com garoupas no Brasil e começa a tomar forma após anos de pesquisa desde a produção de alevinos e estudos de avaliação de soltura de garoupas. De acordo com Claudia Kerber, veterinária responsável e presidente da Atevi, há muito se fazem necessárias ações para reequilibrar as degradações ambientais, sobretudo no mar. Dessa forma, o repovoamento, assim como o defeso, são ferramentas importantes para garantir o colapso e até mesmo o esgotamento da sobrevida marinha.

"Nossa intenção é soltar 20 mil alevinos marcados geneticamente, que serão acompanhados por dois anos até a fase de maturidade sexual, período em que se inicia a nova geração de filhotes", explica. Os peixes estarão protegidos da pesca pela legislação e serão soltos em uma Área de Preservação Ambiental, tudo para garantir a efetividade do repovoamento.

Segundo ela, foram incubados cerca de 240 mil ovos com a projeção de conseguir as 20 mil garoupinhas. A expectativa é que os peixes possam ser soltos em março de 2019. Ela explica que as fêmeas apenas desovam quando os óvulos estão maduros. “Elas os soltam na água e os machos os fertilizam, processo que chamamos de fecundação externa”.

Após a fertilização na água o embrião se desenvolve por 48 horas até que ocorre a eclosão do ovo. A larva da garoupa após a eclosão tem apenas 1.2 mm a aos poucos ela se desenvolve ficando pigmentada e desenvolvendo os órgãos dos adultos. “Aos 30 dias ela sofre o que chamamos de metamorfose e se transforma em um pequeno adulto. Aos 60 dias esse alevino já tem 2 cm e pode ir para o mar. Vamos esperar mais um pouco até eles ficarem bem fortes antes da soltura”, explica a veterinária.

Ela complementa que as fêmeas estão no instituto há 10 anos e têm entre 5 e 15 quilos. “Uma fêmea de 5 quilos pode colocar cerca de 500 gramas de ovos e cada grama tem 1.500 ovos”.

Cláudia salienta ainda que a escolha da garoupa se deu porque é possível obter alevinos saudáveis e perfeitos produzidos em cativeiro, é uma espécie ameaçada de extinção e também porque a garoupa tem uma grande influência e importância na saúde dos ambientes de corais da região.

Além da veterinária, a equipe da Atevi é formada por biólogos, mergulhadores e técnicos em aquicultura. O projeto conta com a parceria do Instituto de Pesca de São Paulo, Laboratório de Genética de Peixes da Universidade de Mogi das Cruzes, Redemar Alevinos, APA Marinha do Litoral Norte Paulista e Prefeitura Municipal de Ilhabela.

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Projeto Garoupas ao Mar 

Arquivo/Mara Cirino 

Laboratório

As garoupas têm crescimento lento e podem chegar até 60 quilos aos 60 anos de vida. Este é um dos fatores que contribuem para o risco de extinção. A produção de alevinos em laboratório é fundamental para garantir a sobrevivência da espécie, fornecendo formas jovens para aquicultura e repovoamento em locais onde já desapareceu ou onde suas populações estão comprometidas.

No caso da Atevi, para chegar aos alevinos saudáveis e perfeitos, foram muitos anos de tentativas e estudos e mais de 60 ensaios até conseguir fechar o protocolo. Hoje, o laboratório montado na região sul de Ilhabela é referência para vários países e universidades, recebendo, também, estudantes locais para ações de educação ambiental

O Projeto Garoupa, uma das primeiras atividades realizadas pela instituição, foi contemplado pela Seleção Petrobras Ambiental em 2012, devido aos bons resultados. Além da melhoria de produção de alevinos de garoupas verdadeiras em cativeiro, a equipe também pode fazer o reconhecimento de habitats de garoupa verdadeira na natureza, iniciar os primeiros estudos de avaliação do potencial de repovoamento, com aplicação de chips para o acompanhamento da sobrevivência no ambiente natural, via telemetria marinha, e que finalmente resultou no Projeto "Garoupas ao Mar".

Financiamento Coletivo

Para garantir a soltura das garoupinhas, a Atevi lançou uma campanha de financiamento coletivo, onde as pessoas fazem a doação por meio de uma plataforma de financiamento na internet, que garante recompensas para quem colaborar com a iniciativa, que vão desde visitas monitoradas ao Laboratório, camisetas, mergulhos e até um curso de produção de alevinos de peixes marinhos, que não existe no Brasil. Mais informações podem ser obtidas no site da instituição: www.atevi.org.br.

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