MPT, sindicato e empresários: todos preocupados com o futuro da Embraer

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A venda do setor comercial da Embraer para a Boeing e o futuro dos trabalhadores da empresa brasileira serão discutidos nesta segunda-feira (20) em uma audiência pública promovida pelo Ministério Público do Trabalho, em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos. O evento será realizado na Câmara de São José dos Campos, a partir das 18h.

Empresários da cadeia produtiva do setor aeronáutico também temem queda na produção e fechamento de postos de trabalho após a concretização do negócio.  Em julho, a Embraer informou ao mercado que vai criar joint venture com a Boeing para aviação comercial na qual a fábricante brasileira ficará com 20% e a norte-americana com 80%.

Com o acordo, a sede da Embraer em Sâo José dos Campos, que completou 49 anos neste domingo, passará a ser sede da nova joint venture.

O debate desta segunda-feira contará com a participação do economista Marcos Barbieri, da Unicamp (Universidade de Campinas), e de Roberto Bernardes, doutor em sociologia e inovação da USP (Universidade de São Paulo), autor do livro “Embraer Elos entre Estado e Mercado” e co-autor de "Innovation Systems in the South: A Case study of Embraer in Brazil". 

"Considerando o possível enorme impacto da concretização da negociação em andamento entre Boeing e Embraer para a cidade de São José dos Campos, é crucial que a sociedade entenda os riscos envolvidos para que possa decidir e se posicionar, exigindo da União a utilização da golden share que detém da Embraer para salvaguardar os interesses nacionais”, disse procuradora do Trabalho Ana Farias Hirano. 

Segundo ela, o Ministério Público pede que a produção das aeronaves de uso comercial de até 150 assentos (desde o projeto até montagem final) seja mantida no Brasil, com a preservação dos respectivos postos de trabalho, após a aquisição pela Boeing.

“O MPT não se opõe à negociação entre as empresas, desde que sejam oferecidas garantias sólidas, passíveis de execução judicial em caso de descumprimento [do eventual acordo]”, ressaltou. 

O Ministério do Trabalho chegou a ingressar ação com pedido de liminar para condicionar a venda da Embraer à garantia de trabalho, mas o pedido foi rejeitado pela Justiça.

Para Herbert Claros, trabalhador da Embraer e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, se a Boeing não garantir o nível de emprego, produção e investimentos no Brasil, haverá um processo de sucateamento da fábrica brasileira que resultará em demissões em massa em um prazo de 10 anos”, disse. 

“Isso não deve acontecer em um primeiro momento, mas sem investimentos e novos projetos, em 10 ou 15 anos a Embraer, que hoje fabrica um avião inteiro, será apenas uma fornecedora de peças para a Boeing”, disse o sindicalista.

Indústria

A cadeia produtiva do setor aeronáutico, que tem a Embraer como carro-chefe, também está preocupada com o impacto da venda da setor comercial da brasileira para a Boeing.  

“Sem dúvida nenhuma temos que buscar medidas para garantir a produção no Brasil. Eu acho que o governo deveria entender melhor e discutir com os empresários da cadeia produtiva. Esta é a hora, depois será tarde demais, disse Cesar Augusto Teixeira Andrade e Silva, presidente e CEO da Akaer Engenharia e diretor regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em São José dos Campos.

“À parte os radicalismos do sindicato, temos que colocar essa questão em debate para o bem do futuro da indústria e dos trabalhadores”, acrescentou o empresário.  

Participação

O Ministério do Trabalho e o sindicato convidaram representantes da Boeing, da Embraer, do setor público e de diversos segmentos da sociedade para participar da audiência pública nesta segunda-feira.

Procurada pelo Meon, a Embraer não confirmou participação. O prefeito de São José, Felicio Ramuth, também não participará, segundo informou sua assessoria.