Operários da Fênix, empresa do grupo Marcondes César, trabalham no Bosque da Tívoli no dia 26 de fevereiro
Nelben Azevedo/Arquivo Pessoal
Moradores da Vila Betânia e bairros adjacentes, na região central de São José dos Campos, preparam uma grande mobilização contra o corte de 430 árvores em uma área na avenida Tívoli. O grupo elabora um abaixo-assinado e planeja uma manifestação na galeria do plenário da Câmara, na próxima quinta-feira (8).
O Bosque da Tívoli ocupa um terreno de 8,4 mil metros quadrados e abriga 274 árvores adultas nativas e 156 árvores exóticas. A área possui uma grande diversidade de aves, como tucano , jacu, cambacica , bem-te-vi , sanhaço, sabiá (laranjeira , do campo e do peito branco ), fim-fim, suiriri , saíra amarela , gavião e beija flor.
A derrubada das árvores teve início no dia 26 de fevereiro pela construtora Marcondes Cesar, que pretende suprimir o bosque para construir um estacionamento no local. O corte foi autorizado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), mas a obra foi embargada pela prefeitura no dia 27 por irregularidades na documentação.
Nesta terça-feira (6),um grupo de moradores da Vila Betânia foi à Câmara pedir adesão dos parlamentares à luta em defesa do Bosque da Tívoli. “Já conseguimos apoio de pelo menos cinco vereadores, e a Câmara abriu um espaço para discutirmos o problema na sessão da próxima quinta-feira”, disse o empresário Nelben Azevedo, um dos moradores que organizam o movimento.
Segundo ele, o objetivo é que os moradores que são contra o corte das árvores ocupem a galeria da Câmara e se manifestem.
O vereador Marcão da Academia (PTB) é um dos parlamentares que manifestaram apoio ao grupo. "Vamos receber uma comissão, ouvir os moradores e verificar o que pode ser feito. Uma das possibilidades é propor ao Estado a aquisição da área para transformá-la em um parque público", disse.
Vista parcial do Bosque da Tívoli, na Vila Betânia, em São José
Nelben Azevedo/Arquivo Pessoal
Impacto
Para o geólogo Paulo Roberto Martini, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a supressão das 430 árvores para dar lugar a um estacionamento vai causar um grande impacto ambiental na região central.Ele citou pelo menos três fatores negativos ao ambiente e à qualidade de vida.
O primeiro impacto sentido pelos moradores seria com relação à temperatura nas proximidades do bosque. “Há alguns anos foi realizada uma avaliação informal da temperatura na avenida Tívoli, comparada à temperatura na avenida José Longo, em frente ao prédio da EDB, onde não tem árvore. As temperaturas variavam de acordo com o horário e local, mas chegou a uma diferença de 12 graus”, disse Martini. “A concentração de árvores deixa a temperatura mais baixa, mais amena.”
O outro impacto que seria sentido em breve pela comunidade seria com relação à qualidade do ar. “O arvoredo absorve o dióxido de carbono durante o dia e libera oxigênio à noite, deixando o ar com uma qualidade muito melhor. As pessoas que fazem caminhada diariamente na Tívoli, e muitas vêm de longe pra caminhar ali, sentem o ar mais puro”, diz o pesquisador.
O outro fator citado por Martini é que o bosque funcionaria como um filtro que retém poluentes que saem da via Dutraem direção à área urbana de São José. “Essas árvores ajudam a proteger aquela região dos particulados que saem dos escapamentos”, explica.
Para o pesquisador, os proprietários da construtora Marcondes Cesar têm uma boa cultura ambiental e podem se sensibilizar com a mobilização da comunidade. “Eles não são apenas empreendedores, têm certa cultura ambiental, têm fazenda, têm cavalos. Não custa nada tratarem aquela área do mesmo modo que tratam a fazenda deles”, disse Paulo Martini.
Coman
O presidente do Comam (Conselho Municipal de Meio Ambiente), Lincoln Delgado, disse que essa questão deve ser discutida pelos conselheiros em uma reunião que já estava agendada para o dia 14 de março. No entanto, ele ressalta que a proteção do Bosque da Tívoli não é competência do município, e sim do Estado. Isto porque o agrupamento de árvores na Tívoli é considerada um dossel contínuo --um tipo de vegetação que tem como característica o encontro das copas das árvores que, em uma imagem aérea, forma uma grande faixa verde.
Outro Lado
A construtora Marcondes Cesar foi contatada pelo Meon, mas a empresa informou que não iria se manifestar sobre o assunto. A placa instalada no acesso à área verde identifica a empresa Fênix Ltda, que pertence ao grupo Marcondes Cesar, como responsável pelos trabalhos no local.
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