Por Marcus Alvarenga Em RMVale

‘A dignidade foi embora com os móveis’, relata moradora de Jacareí

Vó e neta estavam sozinhas quando enxurrada atingiu casa no Jardim Luiza

A aposentada Anice da Silva, de 70 anos, estava sozinha com a neta de 7 anos no momento em que a enchente atingiu a sua casa no bairro Jardim Luiza, em Jacareí, na tarde de segunda-feira (26). Após 24 horas do temporal, a família seguia com o trabalho de limpeza, contabilizando o prejuízo e tentando buscar uma recuperação emocional pelos momentos de tensão vividos. Confira acima o vídeo e ao fim do texto a galeria de fotos registrada pela equipe de fotojornalismo do Meon.

“Faz cinco anos que voltei a morar no bairro e agora foi a pior inundação que já vi. Não dá para controlar a emoção, foi um estrago total. A gente tenta ser forte, porque foram apenas bens materiais, mas nossos sonhos, nosso trabalho e dinheiro ganhado com esforço foi embora. Tenho uma cama que ainda tenho prestações a pagar, estava finalizando a pintura da casa”, conta emocionada a idosa, que foi resgatada pela filha durante o temporal.

Se não fosse da boa vontade e união da comunidade não teríamos nada"

Roselaine Rafael Professora

“Eu não conseguia entrar no bairro, eles estavam ilhados. Tinha uma equipe do Corpo de Bombeiros socorrendo as crianças na escola municipal, mas os moradores estavam sozinhos. Eu entrei com a água acima do meu abdômen, eu só pensava em salvar minha mãe e sobrinha, e acabei encontrando elas no alto da escada no fundo da casa”, relata a professora universitária Roselaine Rafael. 

De acordo com a moradora, desde que foram realizadas obras nas galerias pluviais do bairro, entre 2010 e 2011, a comunidade não sofria com grandes problemas no período de fortes chuvas. Mas ela aponta mudanças na área ao entorno como possível causador da maior enchente já registrada no Jardim Luiza.

“Esse bairro sempre teve problemas de enchente, mas com a parte hídrica nova achava que não teria mais problemas. Como foram construídos muitos prédios por volta do bairro, não existe mais área de drenagem natural, então toda a água acumula e desce uma enxurrada em nossa direção. Além de que o córrego que corta o bairro não suporta a quantidade de água, que não tem para onde escoar”, destacou a professora.

Todos os cômodos da casa estavam com marca da água com mais de um metro de altura, móveis no lado de fora aguardando secarem, comidas e documentos molhados e separados para serem jogados ao lixo. Mas, apesar da cena dramática, naquele momento o pensamento de todos os moradores do bairro era de união e retomada da rotina. 

“Tem que ser assim, a união fortalece. A solidariedade é da população. Vemos pessoas que mal conhecemos e não temos intimidade oferecendo ajuda, querendo saber o que precisa, entrando em casa e ajudando a limpar. Isso que nos fortalece, a gente tem que se unir”, diz a mãe da família com a voz embargada e amparada pelo abraço, olhar e apoio das quatro filhas e dos três netos.

Descaso da prefeitura

"A dignidade foi embora com os móveis. Esteve aqui apenas uma assistente social, que fez um cadastro e entregou algumas garrafas de água e pacotes de bolacha. Parece que a prefeitura esqueceu de todos nós, pois nem o carro pipa até agora veio. Se não fosse da boa vontade e união da comunidade não teríamos nada", relatou Roselaine, que mesmo cadastrada, não havia recebido os colchões, produtos de higiene e limpeza e a cesta básica previstos para serem entregues pela administração municipal.

Além disso, os moradores que andaram pela água durante a enchente, com perigo de infecção por alguma doença, não encontraram vacinas no posto de saúde do bairro para se imunizarem. "Levei minha mãe e sobrinha no postinho, mas não tinha vacina de lepstopirose e outras doenças infecciosas. Eles ainda disseram que o agente de saúde estaria de férias e não teria como dar suporte para todo mundo. Apenas fomos vacinadas contra a hepatite B", lembrou a professora.

Entretanto, a Prefeitura de Jacareí declaraque  foi realizada uma força tarefa com equipes da Defesa Civil e de outras secretarias municipais no atendimento dos moradores afetados pela enxurrada. E conforme o relatório da Secretaria de Assistência Social, 95 pessoas de 33 casas necessitaram de atendimento das assistentes sociais em situação de emergência.

"No Jardim Luiza, o Córrego Seco transbordou e a água alagou ruas e invadiu a EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Guaraci da Rocha Simplício. As aulas permanecerão suspensas nesta quarta-feira (28).  A Defesa Civil reforça que é fundamental a desinfecção do imóvel invadido pelas chuvas para evitar contaminação por doenças como a leptospirose. Nesse caso, mesmo que o morador não tenha necessitado do auxílio da Defesa Civil é preciso buscar a orientação na Vigilância Sanitária", declarou a administração por meio de uma nota oficial.

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